Quase todos os sábados, sempre que o trabalho deixa e que o bom tempo convida, um grupo de rapazes junta-se no Parque das Bernardas, na Marinha Grande, para matar saudades da Índia através de uma boa partida de cricket.
Entre lançamentos, Jatin Saini, de 23 anos, explica que mora bem perto do campo, no Casal do Malta. Tal como ele, quase todos os amigos, vindos das regiões de Harayana e Punjab, estão a residir neste bairro social e a trabalhar numa fábrica de artigos de cimento, na Batalha.
Os horários do emprego nem sempre o possibilitam, mas, sempre que pode, o grupo marca encontro para jogar. Não seguem exactamente as regras de um desafio oficial, até porque isso implicaria concentrar onze praticantes de cada lado. Contudo, a ocasião sempre lhes permite desempoeirar os tacos e conviver com amigos à volta de um desporto que lhes é querido.
Balwinder Singh, de 28 anos, conta que já jogava habitualmente nas ruas da Índia, como forma de se descontrair depois das jornadas de trabalho na agricultura. Mas admite que, próximo da populosa cidade de Déli, não encontrava tão boas condições para praticar a modalidade como estas que veio encontrar neste amplo campo das Bernardas.
E não são apenas as características do relvado que merecem elogios. É a qualidade de vida que encontra em Portugal, a começar pela alimentação, em particular pela fruta, que por cá se cultiva com muito menos aditivos, valoriza o agricultor.
De telemóvel em riste, o jovem mostra orgulhosamente vídeos e fotos, para comprovar como é interessante esta modalidade quando praticada à séria. Um desporto que tanto envolve homens como senhoras, realça Balwinder, que entretanto já integra o Cricket Club Team Stadium – Estádio Municipal de Miranda do Corvo, no distrito de Coimbra.
À volta do campo, a actividade vai despertando a curiosidade de quem por ali passa. De tal forma que, recentemente, em reunião de câmara, a vereadora Lara Lino sugeriu ao executivo que crie melhores condições de jogo a uma comunidade que já usa o espaço de modo informal. Seria, do seu ponto de vista, um sinal de apoio à integração de cidadãos estrangeiros.
Aurélio Ferreira, presidente do município, realçou que a comunidade indiana é a segunda maior no concelho, depois da brasileira. Sublinhou ainda que o relvado em questão tem sido usado para lançamentos, por parte do Clube de Atletismo da Marinha Grande, pelo que nem sempre será possível conjugar esta sua vertente com o cricket.
Contudo, Aurélio Ferreira frisou que a Marinha Grande está receptiva para acolher todos os estrangeiros, não deixando de analisar a sugestão de Lara Lino.
