A entrada em campo da equipa sénior da SAD da União de Leiria em Oliveira do Hospital, a contar para a 20.ª jornada da Série C do Campeonato de Portugal de futebol, só foi possível graça s à presença de quatro jogadores juniores do clube, que ajudaram a garantir o número mínimo de atletas formados localmente exigido pelo regulamento.
Filipe Moreira, Bryan Rosa, Alexis Rodrigues e Henrique Fernandes foram os futebolistas recrutados para seguirem viagem com a equipa sénior, que recorreu ainda ao treinador estagiário para ter alguém sentado no banco, uma vez que Filipe Cândido rescindiu contrato com a SAD na semana passada.
Carlos Delgado acompanha o grupo há cerca de seis meses como técnico estagiário, no âmbito do seu mestrado em treino desportivo de alto rendimento.
Com a saída da equipa técnica de Filipe Cândido, a SAD desafiou-o a assumir os treinos e a orientar o grupo no jogo de domingo, situação que se deverá repetir na próxima jornada frente ao Recreio de Águeda.
Apesar de não ter qualificação, nas situações de saída de técnicos, a Federação Portuguesa de Futebol abre uma excepção durante o máximo de duas semanas.
A equipa titular que alinhou na derrota (3-2) com o Oliveira do Hospital era composto por 11 dos 12 atletas disponíveis pela SAD, mas do banco ainda saltaram Filipe Moreira, Bryan Rosa e Nicky Clescenco, que entraram na segunda parte.
[LER_MAIS]Para o presidente do clube, esta colaboração nada traz de novo, até porque “esteve sempre de portas abertas e disponível” para ajudar.
“Sempre cumprimos as nossas obrigações e o que está estabelecido no protocolo. Perante o cenário de não haver jogo por falta de jogadores formados localmente, desde a primeira hora demonstrámos a nossa disponibilidade para ceder atletas, desde que cumprissem os requisitos exigidos, nomeadamente os exames médicos.”
Nuno Cardoso garante que a crise por que atravessa a SAD não vai ser agudizada pelo clube. “Não será pela nossa parte que a União de Leiria não irá a jogo. Não foi o clube que se reaproximou. A porta nunca esteve fechada e a equipa até tem treinado na academia de Santa Eufémia, onde não tem de pagar.”
O dirigente considera que o fim da SAD “nada traz de bom a quem quer qu seja”. “Se a SAD fechar ninguém recebe nada. Todos perdemos. O cenário é complicado e quem gosta do Leiria percebe que estamos num momento de dificuldade. A União de Leiria é dos sócios. Na sexta-feira realiza-se uma assembleia geral e os sócios deverão decidir o que querem para o futuro.”
Ao que o JORNAL DE LEIRIA apurou, a SAD continua a desenvolver contactos para garantir a entrada de um investidor que injecte o dinheiro necessário para pôr fim à crise financeira, que há muito atravessa e que se tem vindo a acentuar.
Em entrevista a este semanário, publicada em Dezembro último, o presidente da SAD, Alexander Tolstikov, admitiu estar “numa situação muito complicada” e a negociar com investidores para vender os 60% que detém.
“Tenho muito pena de não haver um final feliz. Espero que com a minha saída a União de Leiria possa alcançar os objectivos, mas claro que não imaginava isto assim. O nosso projecto tinha muita coisa interessante que queríamos fazer, mas quando aconteceu o que aconteceu [Operação Matrioskas] perdi imediatamente grandes parceiros.”
Sergiu Renita confirma que estão em cima da mesa “várias propostas” de possíveis investidores. “Há várias possibilidades e estamos a estudar a melhor. Desde que os problemas se tornaram públicos que têm aparecido mais interessados, mas temos de analisar bem todos os processos”, sublinha o director da SAD.
A solução pode estar iminente, embora não haja um prazo estabelecido. Sergiu Renita garante ainda que nos próximos dias deverão chegar reforços e um novo treinador, que terá de ser “ambicioso” para garantir ao novo investidor que o projecto de, pelo menos, chegar ao playoff, da qual a União de Leiria dista seis pontos, ainda é possível.
“Está tudo em aberto. E tudo é ainda possível. Sabemos que estar no playoff não é garantia de subida de divisão, mas é sempre uma hipótese.”
Relativamente aos jogadores que saíram e tendo em conta os problemas financeiros, a SAD não lhes quis cortar as pernas, até porque foram “para projectos melhores”.
“Não tínhamos moral para lhes pedir para ficar. Receberam propostas muito boas, financeira e desportivamente melhores. Mas a base fica e não vão sair mais”, assegura o director.
O JORNAL DE LEIRIA teve conhecimento que, em paralelo, um grupo de sócios e simpatizantes da União de Leiria tem também tentado encontrar uma solução, procurando possíveis empresários disponíveis para investir na SAD. Foi esse grupo que encontrou patrocínios para pagar um mês de salário aos jogadores.
Bryan Rosa
Sonho cumprido em dias difíceis
Aos 17 anos, Bryan Rosa fez a sua estreia pela equipa sénior. Apesar de ter sido chamado num momento complicado da SAD, e de ter entrado ao minuto 87, o jovem admite que “é sempre uma oportunidade única” integrar o plantel sénior. Há nove anos e meio com o emblema da União de Leiria ao peito, sempre sonhou chegar um dia aos seniores. As circunstâncias dificilmente seriam piores. “Não importa as razões, mas ter jogado. Já tinha sido chamado várias vezes aos treinos e chegou-se a falar da possibilidade de integrar a equipa sénior. Sei que teria poucas hipóteses de jogar, mas é sempre bom fazer parte da equipa sénior.” Apesar do grupo estar em dificuldades, Bryan Rosa garante que o espírito do balneário é o melhor. Os mais velhos receberam- -no a si e aos seus companheiros juniores da melhor maneira e todos “estavam confiantes em conseguir uma vitória”. “Deram tudo para vencer, infelizmente não foi possível.” Também o júnior teve a secreta esperança de entrar e ajudar a resolver a partida. “Claro que acreditei, mas não consegui fazer golo. Dei o meu melhor”, sublinhou, ao afirmar que esta estreia abre as portas para futuras convocatórias. A próxima pode acontece já no domingo, frente ao Águeda. “Não estou a treinar com os seniores por causa do horário da escola, mas vou tentar encontrar forma de conciliar as duas coisas.”