“Não nasci na Batalha mas sinto-me filha da terra”, confessa Cristina Maria, que estudou cantaria na antiga Escola Profissional de Artes e Ofícios Tradicionais (já extinta), onde viria a ser formadora, e que apesar de morar no vizinho concelho de Alcobaça, passa a maior parte dos dias entre os batalhenses.
Divide agora o atelier com outros artistas, na empresa Gárgula Gótica, que há 23 anos se dedica ao restauro e conservação, cantaria artística e escultura. A nova exposição – patente até final do mês no posto de Turismo, de onde seguirá para Ponte de Sôr – chama-se “Reflexos” e mostra o que ficou de Cristina Maria “enquanto mulher e enquanto artista” depois de dois anos particularmente difíceis para quem vivia da arte.
No momento em que retoma, aos poucos, os espectáculos, e lança um novo álbum de originais, a artista não consegue escolher entre o fado e a escultura. “Ambos são parte de mim da mesma forma”. É por isso que leva as suas obras para o palco, quando canta. E é por isso que canta quando esculpe. É dela a rosácea que desde 2012 está no Convento de São Francisco, em Tomar. O verão será dela também, tanto como a Batalha será de todos os que a visitarem, por estes dias.
Para lá da escultura, é no fado que continua a projectar-se, através do seu mais recente álbum de originais – “Livremente” – lançado em 2020. Este é o quarto trabalho da sua autoria. O primeiro [O Outro Lado]aconteceu em 2008, numa altura em que a fadista/escultora já era um nome conhecido na cena do fado, com forte influência amaliana. Desde então, nunca mais parou de se apresentar nos palcos nacionais e internacionais. Orlando Leite considera-a “uma nova voz do Fado, quente e poderosa, num percurso musical guiado pelo mestre da guitarra portuguesa, Custódio Castelo”.
Depois da apresentação do seu segundo trabalho discográfico, “Percursus”, Cristina Maria tem vindo a promover as duas artes que representa – a escultura e o fado, que têm merecido o seu reconhecimento um pouco por todo o mundo. Foi igualmente marcante a apresentação do terceiro trabalho, “A voz das Mãos”, apresentado em junho de 2014 no Panteão Nacional, em Lisboa, em conjunto com a exposição de escultura de sua autoria “ Esculturas do meu fado”, um tributo ao fado e em especial a Amália Rodrigues, numa entrega e misto de sentimentos transportados para os palcos, onde se respira e transmite duplamente Arte através da música e da sua obra.