Acordo todos os dias curioso. A cada nova manhã há uma coisa nova para descobrir. E, a partir da observação, tento dar sentido ao que vou descobrindo, tentando avidamente entender. Qual criança na idade dos porquês questiono a cada a dia o que vou encontrando.
Numa destas manhãs fiquei maravilhado com a beleza de um lancil. Aprumado, apresentava uma nova roupagem alba, que transmitia uma pureza que não se esperava de um lancil. Intrigado, continuei o caminho e verifiquei que não era apenas um lancil. Por toda a cidade havia lancis galhardamente brancos, imaculados, prístinos.
Pus-me a pensar o que teria motivado tal brancura súbita. Não descurando nenhuma hipótese, pensei que talvez pudesse ter sido um fenómeno alienígena, uma mensagem do espaço a assinalar como destino escolhido a cidade de Leiria. Sem notícia de avistamentos nas imensas câmaras de vigilância da cidade, descartei a hipótese.
Aproximei-me, depois, para verificar se seria uma contaminação de um estranho fungo que atacasse lancis e os deixasse brancos. Feita a colheita de uma amostra, percebi que não era um fungo. Era tinta branca que cobria lancis por toda a cidade!
Percebi então que seria resultado de uma intervenção humana. Pensei que poderiam ser caiadores em luta contra a insignificância da sua profissão. Na cidade já não sobram paredes que possam ser caiadas, entre vidro, aço e paredes degradadas. Não encontrei nenhum manifesto de uma associação de caiadores que reivindicasse a autoria dos brancos lancis leirienses, portanto não seria esta a explicação.
Cogitei que talvez pudesse ser uma forma de combater a vil campanha que insinua que Leiria não existe, com a mensagem “existimos tanto que até os nossos lancis são extremamente maravilhosos!”. De novo, sem qualquer mensagem de ativismo a reclamar a ação, pus de parte a explicação.
Até que, juntando pistas dispersas, percebi. Tudo ficou claro quando vi o fumo a subir vindo dos grelhadores de porco no espeto natalício (que em nada se confunde com o porco no espeto medieval), os baloiços que proclamam amor, e ouvi a Mariah Carey e os Wham!
Leiria quer mostrar-se bela, quer mostrar que se portou bem durante todo o ano e que merece todos os presentes do Pai Natal! Arrisco mesmo dizer que Leiria quer ter os lancis mais bonitos do mundo, iniciando uma tendência que tornará os limites das rodovias em “lancis à Leiria”!
Dias em que se descobre um mistério são dias de sucesso. E agora, rumo à próxima curiosidade com que nos brinda a cidade!
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990