Maria Anabela Silva
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Quis ser juiz e foi por isso que seguiu Direito, mas o desejo, quase compulsivo, de viajar e de conhecer outras culturas e modos diferentes de organização social, levou Guilherme Vilaça, natural de Reguengo do Fétal, Batalha, a enveredar pela docência e pela investigação.
À boleia também do amor e das “necessidades da família”, tem já uma vasta carteira de viagens e de experiências em países de quatro continentes. Presentemente, é professor associado no Departamento de Direito do Instituto Tecnológico Autónomo de México, onde lecciona Filosofia do Direito e Direito Internacional. Dedica-se também à investigação, estudando o papel do Direito face a outras fontes normativas na criação e regulação da ordem do Direito, modelos éticos para as relações internacionais.
Dividido entre a Filosofia, a História e o Direito, Guilherme Vilaça acabou por optar pela última área porque “queria ser juiz”. No entanto, durante o curso, feito na [LER_MAIS]Universidade Nova, percebeu que o seu caminho passaria pela investigação e, associado a isso, pela docência. “Queria continuar a viajar e a mudar muitas vezes de sítio. E isso não é compatível com a carreira na magistratura”, alega.
Terminada a licenciatura, seguiu-se o mestrado em análise económica do direito, repartido entre Bolonha (Itália), Hamburgo (Alemanha) e Haifa (Israel) e o doutoramento no Instituto Universitário de Florença (Itália). Entretanto, a esposa de então teve uma oportunidade em Austrália e Guilherme Vilaça acompanhou-a, terminando aí o doutoramento na área das ciências sociais, que procurou perceber “por que é que temos tanto Direito nas sociedades contemporâneas ocidentais”.
“Termos um Tribunal Constitucional, que permite declarar toda e qualquer norma ou prática de uma autoridade pública inconstitucional, foi uma revolução enorme e deu a todos nós a possibilidade de tornarmos qualquer questão uma questão de Direito”, explica.
Finlândia foi o destino que se seguiu. Esteve em Helsínquia um ano como investigador de pós-doutoramento, antes de rumar à China, onde ficou três anos como professor assistente. Depois da aventura chinesa, regressou a Helsínquia. Viria aí a conhecer a sua actual esposa, de origem italiana, que trabalha numa Organização Não Governamental internacional, com quem rumou depois a Roma e mais recentemente ao México.
Tem sido, reconhece, um percurso ao sabor das oportunidades, mas também do amor. “As escolhas que fiz estiveram relacionadas, sobretudo, com o sítio onde queria viver, a cultura que queria conhecer, as pessoas com quem estava e as necessidades da família”, assume Guilherme Vilaça, de 36 anos, dez dos quais a viver no estrangeiro.
Dos países onde viveu, destaca o México, onde a “simpatia extrema” da população relega para um plano secundário os problemas sociais, “a violência física e de género e a discriminação”, e a China e a Finlândia, duas culturas “completamente distintas.”
“A China continua a ser um mundo totalmente diferente do nosso. Há a questão da repressão, que obviamente repudio, mas é importante aceitarmos que há modelos político-sociais alternativos, que nós não temos necessariamente de estar certos, até porque o nosso modelo não é perfeito”, alega. Da Finlândia destaca a cultura de “respeito pelo outro” e pela “igualdade de género”. “É um exemplo fenomenal e inspirador para quem quiser ter filhos.”
O regresso à Europa é uma hipótese em aberto. “Paris pode ser um bom destino. Depois, adorava viver no Japão, mas também na Ásia Central, eventualmente Cazaquistão, Usbequistão”, confessa Guilherme Vilaça, um cidadão do mundo.