Em tempos de eleições europeias muito se tem debatido assuntos pertinentes como as migrações, alargamento da União Europeia (UE) ou um conjunto de assuntos que em nada estão relacionados com a UE – incluindo uma madura discussão sobre quem é mais infantil. Contudo, pouco se tem discutido sobre a política económica da UE. Há, arrisco eu, uma explicação: discutir a política económica da UE mostraria que não há uma igualdade entre todos os países. Por mais evidentes que sejam os benefícios da UE para o progresso de Portugal e dos restantes estados- -membro (em termos económicos, sociais, educativos, tecnológicos, etc.) nem tudo é perfeito – dificilmente se discutem os problemas e como os resolver, ou os efeitos negativos e como os minorar.
Veja-se, por exemplo, a política de desindustrialização prosseguida (alegre e acriticamente) nos anos 90 em Portugal. Os defensores da desindustrialização consideraram que as necessidades do país poderiam ser satisfeitas pelas empresas europeias. Já neste século, a desindustrialização prosseguiu nos países da Europa Central, com a ingénua ideia de que as necessidades seriam satisfeitas pela China enquanto fábrica do mundo – com os produtos de elevado valor a serem produzidos na Europa, sobretudo na Alemanha.
A ingénua estratégia prosseguida permitiu colocar a UE numa posição de dependência externa em relação a muitos produtos, e de atraso tecnológico. Por exemplo, nas tecnologias do futuro (ex: energia solar, veículos elétricos) os líderes – em conhecimento, tecnologia e capacidade de produção – estão na China e não na UE, ou nos EUA. Correndo atrás do prejuízo, UE e EUA levantam barreiras alfandegárias aos produtos chineses – nomeadamente carros elétricos. É irónico que os defensores do livre funcionamento do mercado considerem agora que é necessário intervir no mercado para assegurar os melhores interesses da UE, sem que disso se depreenda ser uma sovietização. É, também, irónico que as maiores potências económicas da UE considerem agora estar em risco, vítimas potenciais do efeito que os beneficiou.
A língua alemã tem peculiaridades que a tornam tão interessante como difícil de entender. Por exemplo, a palavra “schadenfreude”, que descreve o sentimento de alegria pelo sofrimento alheio. Em português, temos uma expressão com mais palavras, que inclui “pimenta” e “refresco”. À atenção dos entusiastas das línguas, deixo uma sugestão de tradução (com ajuda de meios tecnológicos): “Pfeffer in den ärschen anderer leute ist für mich eine erfrischung”.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo ortográfico de 1990