Maia de Carvalho nasceu e viveu na capital portuguesa até 1979. Em criança passava grande parte do Verão em casa dos avós, em Albergaria dos Doze, Pombal, para onde se mudou definitivamente anos depois da Revolução de Abril. Luís Filipe Maia de Carvalho foi professor durante mais de 30 anos e o primeiro adjunto do presidente de Câmara em Pombal, no tempo de Narciso Mota.
Começou por “fazer recados” aos vizinhos, ainda muito jovem, para amealhar algum dinheiro. O objectivo era apenas um: comprar livros. Depois, começou a ajudar na igreja da freguesia onde residia. A certa altura passou a tomar conta da capela do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, o que lhe rendia, por cada missa, 20 escudos. “Com este dinheiro comprava muitos livros e também conseguia ser sócio do cineclube.”
Quando terminou os estudos começou a trabalhar num escritório de advogados. Depois, ainda antes de ir para a tropa, colaborou numa oficina onde vendia e afinava tintas para automóveis. Mas desde muito cedo que uma tia lhe dizia que, um dia, Maia de Carvalho haveria de ser professor. Na família havia vários docentes e o seu professor da escola primária deixou-lhe marcas, tendo sido uma referência profissional.
Durante o tempo em que pertenceu à artilharia, no Porto, foram-lhe dadas todas as “facilidades” para estudar para o exame de admissão ao Magistério Primário, que realizou quando terminou o serviço militar. Assim que terminasse o trabalho, na parte administrativa, “ficava livre para ir estudar”.
A boa classificação que conseguiu alcançar naquela prova deu-lhe a possibilidade de escolher a escola onde queria leccionar. Assim, acabou por passar por várias instituições de ensino. Em Lisboa deu aulas nas escolas do Alto do Pina e de Carnide onde também foi, nesta última, director.
[LER_MAIS] Fez uma pausa no ensino e trabalhou na livraria Verbo Escolar, a divulgar e a rever livros escolares. Foi convidado a gerir a empresa pouco antes da Revolução dos Cravos. Mas com a instauração da democracia, a Verbo Escolar teve de encerrar actividade, ficando apenas a funcionar a Verbo. “Quase todos os livros escolares foram para o lixo. Diziam que o meu patrão era amigo de Marcelo Caetano e acusavam-nos de sermos fascistas”, conta o professor.
Maia de Carvalho ficou, então, a colaborar com a empresa, mas na redacção. Contudo, não gostava da ideia de estar todo o dia sentado numa secretária e fechado num gabinete. Anos depois, passa a ser vendedor de livros. Ficou responsável pelas zonas de Leiria, Portalegre, Santarém e Norte do Distrito de Lisboa. E é por essa altura, já em 1979, que se muda definitivamente para Pombal.
Os pais haviam-se mudado para Albergaria dos Doze depois da reforma e Maia de Carvalho viveu com eles durante algum tempo. Três anos depois decidiu deixar as vendas na Verbo e regressar ao ensino. Foi dar aulas para a Escola Primária n.º1 de Pombal, aos alunos do 4.º ano.
No ano lectivo seguinte ficou igualmente com o mesmo ano de escolaridade mas com todos os alunos repetentes. A direcção não queria turmas apenas com alunos repetentes, pelo que Maia de Carvalho teve de justificar essa opção. Teve de explicar que, apesar de exigente, era acarinhado pelos seus alunos que, tendo repetido o ano, continuavam a preferi-lo como professor. “Muitos deles tinham sido meus alunos e fui eu que os reprovei. Alguns chegaram a escreverme cartas a dizer que só voltavam para a escola se fosse eu o professor.”
Mais tarde deu aulas a adultos. “Foi uma experiência muito gira”, afirma. “Não sei como é que eles me tratavam. Se como pai, irmão ou filho. Mas foi muito giro.” Apesar de a sua vida ter sido marcada pelo ensino, Maia de Carvalho foi também o primeiro adjunto na Câmara de Pombal, no tempo de Narciso Mota.
Quem não viu isso com bons olhos foi o próprio autarca. “Apesar de nunca me ter dito que não me queria lá, achou sempre que eu era um espião e deu-me as piores condições de trabalho possíveis”, adianta.
Esteve até ao final do mandato, altura em que voltou novamente ao ensino. “Surgiu a lei dos agrupamentos. Comecei a organizar uma lista para concorrer ao primeiro agrupamento que houve em Pombal e ganhei”, lembra. Foi professor até se reformar.
Hoje, com 79 anos e uma vida pautada pelas letras, Maia de Carvalho não tem dúvidas quando questionado sobre qual o livro que mais o impressionou: A 25.ª Hora, de Virgil Gheorghiu. “Naquele livro não se distingue ninguém”, afirma. “Não há razão nenhuma para as pessoas serem perseguidas pelos seus ideais ou crenças”, justifica o professor.