Cresceu num bairro dominado pela Máfia, o de Scampia, considerado um dos mais violentos de Nápoles, marcado pelo crime organizado retratado no livro Gomorra, o bestseller de Roberto Saviano. Viu “muito sofrimento”, gente a comprar e a consumir droga e a desgraçar-se com o vício, uma vivência que o levou a cortar a ligação com a Igreja, que via também como “uma máfia”.
Mas um acaso levou Gaetano Catalano a frequentar umas catequeses, que viriam a mudar a sua vida e o ajudariam a descobrir que, “de facto, Deus é amor”. Ordenou- se no ano passado e é o novo padre de Alfeizerão e São Martinho do Porto, paróquias de Alcobaça.
A história de Gaetano Catalano, de 43 anos, tem um antes e um depois do convite que recebeu de uma jovem para o acompanhar a um grupo de catequese. Então com 20 anos, trabalhava com o pai na empresa da família na área da distribuição de bebidas e de produtos alimentares. E tudo apontava para que desse continuidade ao negócio.
Mas, certo dia, um amigo pediu-lhe que levasse uma rapariga até à Igreja. “Ela convidou-me para assistir a algumas catequeses. Que fosse ouvir o que tinham para dizer.” Acabou por aceder ao desafio. “Ouviu-os falar do amor de Deus, mas eu não conseguia ver esse amor no meu bairro”, recorda.
A determinado momento, perguntaram-lhe o que achava das catequeses [LER_MAIS] e o jovem Gaetano, que “era um anti-clerical, daqueles que apontam o dedo contra a Igreja, contra os padres e contra o Papa”, disse-lhes aquilo que pensava da Igreja e partilhou as suas dúvidas sobre o amor de Deus. “Perguntei-lhes 'Onde está o amor de Cristo se há pessoas a comprar droga, se há gente em grande sofrimento'. Houve quem ficasse revoltado com o meu testemunho, mas escutaram-me.”
Apesar das críticas que fez, acabou por ser convidado para participar num retiro. E foi aí que se iniciou a mudança. Passou a integrar uma comunidade neocatecumenal e, “aos poucos”, diz, começou a ver que “nem todos os padres” eram como lhe foram apresentados, “que a Igreja não era uma máfia, como pensava, que há padres que dão tudo sem pedir nada em troca”. “Fui descobrido o amor de Deus”, resume.
Vocação aproximou família à Igreja
A descoberta da vocação motivou também uma aproximação à Igreja da sua família, que “não tinha nenhuma ligação à religião” e que, de certa forma, lhe alimentou os pensamentos “anti-clericais e anti-cristãos”. Pelo que, a comunicação da decisão de seguir o caminho vocacional revelou-se um momento difícil.
A primeira a saber foi a mãe – “é sempre por ela que um filho começa quando quer dizer uma coisa séria aos pais”, justifica -, que recebeu a notícia em “choque”. Mas a reacção do pai, que contava com ele para continuar o negócio da família, surpreendeu-o, ao garantir-lhe que a notícia da sua entrada no seminário era “a coisa mais bonita que podia acontecer à família”. Perante estas palavras, Gaetano sentiu-se “livre” e as dúvidas que ainda subsistiam “desapareceram”.
Há nove anos, veio para Portugal, para frequentar o seminário Redemptoris Mater, em Lisboa, um seminário com finalidade missionária que recebe candidatos ao sacerdócio de vários países. Antes de ser ordenado, cumpriu uma missão de dois anos na Dinamarca, nos arredores de Copenhaga, acompanhando um padre e uma família do movimento neocatecumenal.
Ordenado no ano passado, em Lisboa, esteve em Peniche como coadjutor do padre local e, no passado dia 22 de Setembro, assumiu as paróquias de Alfeizerão e de São Martinho do Porto, que encontrou “bem estruturadas”. Nesta fase, está ainda “a conhecer o território, que é bastante amplo, e as pessoas e a perceber o que é preciso fazer.”
Aos jovens que partilham com ele algumas das ideias que tinha antes, procura passar a mensagem de que a “Igreja tem de tudo, coisas boas e más, mas a maioria é positiva”. “A Igreja está repleta de pessoas boas, que dão tudo sem nada pedir. Mas os homens que se entregam, na maior parte dos casos, não aparecem nos jornais nem nas televisões.”