No mundo e perante um confronto entre partes, não gosto de tomar partido de um dos lados da mesma maneira como o faço no futebol. Nesta última situação, quando o meu clube joga, sei e até aceito comportar-me, conscientemente, de uma forma completamente tendenciosa. Assim sendo, com facilidade vejo, quase sempre, como sendo uma enorme injustiça, penaltis, faltas e agressões contra a minha equipa não sancionadas pelos árbitros.
Já em procedimentos semelhantes, se os beneficiários forem os outros, arranjo mil argumentos para concordar com o juiz da partida. Confesso que até penso que parte do meu gosto pelo futebol é ele possibilitar-me o exercício de uma certa irracionalidade que me permite, sem magoar ou ofender ninguém, dar alguns minutos de liberdade ao animal que há em mim.
Já perante os outros confrontos começo a sentir-me desconfortável quando me vejo a só defender um dos lados sabendo-me ignorante quanto às causas do conflito entre as partes. E tal foi o que me está a acontecer agora quando, perante as atrocidades cometidas por Israel contra os nativos da Palestina, desejei que Israel deixasse de existir!
Não me sendo possível aceitar tal sentimento pus-me à procura nos livros de informações sobre os porquês desta guerra. Foi na “Arquivo” que encontrei o livro, “Palestina Uma Biografia” de Rashid Khalidi, bestseller do The New York Times, e viajando com ele desde logo, após ler as primeiras páginas, concluí que muito dificilmente eu virei alguma vez a defender este Estado de Israel!
Ao ler “(…) O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país (…)”; a carta enviada em novembro de 1917, a Lord Rothschild por James Balfour, para mim fica claro que o desejo de encaminhar os judeus para a sua pátria bíblica não passou de uma capa para, por entre outros interesses do governo de Sua Majes-tade, reduzir a indesejada vinda, nessa altura, de judeus para Inglaterra e que para tal houve a necessidade de tratar os palestinianos (na altura, 94 por cento dos habitantes da região) não como um povo nativo daquela terra, mas como uma coletividade não judaica!
E continuei a ler, a ler e à medida que vou lendo este livro em mim cresce um pensamento: quem me dera que a Declaração de Balfour nunca tivesse sido escrita!
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990