Quis, um dia, ser presidente da Junta de Pombal, pela “vontade de exercer um cargo com poderes para resolver os problemas” da sua terra. Não foi eleito, mas tem cumprido, na plenitude, esse desejo de ajudar a solucionar problemas dos cidadãos, através da carreira de diplomata que abraçou em 2013. Formado em Direito, João Melo Alvim passou os últimos quatro anos em França, como cônsulgeral adjunto na embaixada de Paris.
Em Junho último rumou à Sérvia, para assumir o cargo de conselheiro na embaixada de Belgrado, cuja jurisdição, em termos de assuntos consulares, abrange também a Bósnia, a Macedónia do Norte e Montenegro.
Ainda a ambientar-se às novas funções, João Alvim recorda como “muito marcante” a experiência que teve na embaixada de Paris. Trata-se, frisa, de “uma das maiores representações diplomáticas portuguesas”. Tem perto de 50 funcionários e presta apoio a uma comunidade de “cerca de 900.000 inscritos”, registando entre “500 a 600 utentes diários” e abrangendo quase metade de França continental e os territórios ultramarinos franceses.
“Ser o número dois da hierarquia garantiu-me uma aprendizagem intensa e recompensadora sobre assuntos consulares, atendendo a que este foi o meu primeiro posto no estrangeiro. Tive também a sorte de trabalhar com cônsules-gerais com óptimas qualidades humanas e profissionais”, realça.
[LER_MAIS]Entre os momentos marcantes dos quatro anos que esteve colocado em Paris, o diplomata destaca as missões em que participou, no âmbito de apoio diplomático-consular à comunidade portuguesa, e que o levaram a diferentes pontos do globo. Das Antilhas, onde deu apoio ao repatriamento de cidadãos nacionais aquando do furacão Irma, que em 2017 atingiu as Caraíbas, passando pela cidade da Beira (Moçambique), onde esteve quando as cheias que bloquearam a cidade e o consulado português, ou por Wuhan, ponto de origem da Covid-19.
A par da participação em missões específicas, o diplomata considera que “resolver um simples problema consular a um cidadão nacional e ver o resultado concreto do trabalho, é algo que marca sempre”. Marcante foi também a sua despedida do Consulado Geral em Paris. “Sentir o carinho dos funcionários com que trabalhei durante quatro anos é algo que guardarei para sempre”, afiança.
De Paris rumou a Belgrado, para assumir o lugar de número dois da embaixada portuguesa na Sérvia, que acumula com as funções de encarregado da Secção Consular, tendo como área de jurisdição a Sérvia, a Bósnia, a Macedónia do Norte e Montenegro. Será, admite, uma missão diferente da anterior, com um maior foco “na área das relações bilaterais” entre Portugal e aqueles países, “com a Sérvia em particular destaque”.
“O trabalho será bastante variado, tanto que abrange a dimensão política, económica e consular, mas promete ser sempre interessante”, antevê João Melo Alvim, que encara a diplomacia como “um desafio”, que lhe permite mudar, a cada “três a quatro anos” de país, de assuntos e de hábitos. “Um diplomata até se poderá especializar numa área, mas há sempre algo que muda. E isso é sempre um desafio. Para nós e para a nossa família, que tem de se habituar a viver em permanente mudança.”
Belgrado tem “tudo (menos bacalhau)”
Para já, a adaptação a Belgrado tem decorrido com normalidade. “Estamos numa cidade onde encontramos de tudo (menos bacalhau), o que facilita a adaptação pessoal e familiar”, refere, sublinhando que a barreira da língua é contornada pelo uso “generalizado” do inglês. “Há uma realidade diplomática muito estimulante. E acompanhar o que se passa em quatro países, cada um deles com as suas idiossincrasias, será sem dúvida o mais exigente”, reconhece.
João Melo Alvim nasceu em Coimbra – “foi só mesmo o nascimento” –, mas passou toda a sua vida em Pombal, até ir estudar Direito, tendo-se formado pela universidade coimbrã. Iniciou o estágio de advocacia no Porto, que concluiu em Pombal, onde exerceu advocacia até 2013, ano em que entrou na carreira diplomática como adido de embaixada.
Também por essa altura deixou a política partidária (foi dirigente do PS), actividade à qual não se vê a regressar, fazendo, contudo, uma ressalva: “ninguém pode dizer que desta água não beberá”. “[A política] Foi um capítulo que mantive aberto tempo de mais. Foi o que foi, no tempo em que devia ter sido. Sinto-me realizado, a nível pessoal e profissional, a servir o meu País como diplomata e assim pretendo continuar.”