Há uma nova planta a enriquecer os registos da flora em Portugal. Com o nome científico Arenaria grandiflora L, a espécie, que nunca tinha sido observada em território nacional, foi agora identificada no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC).
A descoberta aconteceu no âmbito de um projecto de investigação que António Flor, vigilante da natureza com especialidade em botânica, está a levar a cabo naquela área protegida, onde trabalha há longos anos.
A pesquisa procura relacionar a flora com determinados aspectos da geologia, morfologia, litologia e solos na área do Maciço Calcário Estremenho e foi isso que levou o técnico ao sector norte da Serra dos Candeeiros, uma zona que “em tempos teve uma arriba fóssil encostada ao Maciço”.
António Flor sentia que “a possibilidade de haver ali alguma coisa interessante era grande”. E não se enganou. Ao segundo dia de trabalho de campo encontrou, “entre as fendas da rocha”, uma planta “diferente”. “Suspeitei logo que fosse desconhecida no contexto nacional”. Mas, nesta área, suspeitar não conta.
“É preciso demonstrar”. E foi isso que fez nos dias seguintes, já em ambiente laboratorial, com consulta de literatura da especialidade e comparação da planta com outras, a partir de amostras que tinha recolhido. Após horas de trabalho de observação, a suspeita estava confirmada: “Trata-se de uma espécie nunca antes identificada em território nacional[LER_MAIS].”
A planta em causa “tem ocorrências no norte de África, no Sul de Espanha e em França”, com “variação de características” consoante o território, havendo, por isso, “várias sub-espécies descritas”, explica o técnico da Direcção Regional da Conservação da Natureza e Florestas de Lisboa e Vale do Tejo, do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, que continua a fazer trabalho de campo, agora para “avaliar a dimensão da população” de Arenaria grandiflora L na área do parque.
“É uma planta muito fiel, em termos de habitats. Cresce em escarpas e fendas de rochas. Pelo que, não aguenta a competição em ambientes mais favoráveis à proliferação de outras espécies”, explica António Flor, admitindo que, tendo em conta as características da Arenaria grandiflora L, a área de ocorrência “não será muito grande”.
O técnico está também convicto que a planta já existirá neste território “há milhares de anos”. Uma verdadeira “relíquia”, brinca António Flor, um investigador “residente” do PNSAC que, em década e meia, já fez a descoberta de duas novas espécies para a flora portuguesa, ambas numa área protegida que tão bem conhece.
Antes da Arenaria grandiflora L, o técnico tinha sido responsável pela primeira identificação de Arabis Verna em Portugal. Aconteceu há cerca de 15 anos, na zona de Minde, dentro do PNSAC, sendo que, posteriormente, foram efectuados registos noutros pontos do País.