Estima-se que existam entre 300 a 400 mil javalis em Portugal, com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) a reconhecer a necessidade de reduzir essa população entre 10 a 20% nos próximos cinco a 10 anos. O estudo e o plano estratégico e de acção para controlar a população de javalis no País já foi apresentado, com propostas concretas que passam pela “profissionalização” de caçadores e pela dilatação do período de caça à espécie.
E, citado pela Lusa, o secretário de Estado da Conservação da Natureza revelou que o Governo irá propor o alargamento dos períodos de caça ao javali a “praticamente todo o ano”. Contudo, enquanto a lei não muda, os agricultores desesperam com os prejuízos causados pelos animais.
“A situação está de tal maneira que os agricultores não podem produzir nada, seja milho, batata ou vinho. Até os muros de pedra seca destroem, à procura de caracóis”, refere António Ferraria, presidente da Assembleia Geral da União de Agricultores do Distrito de Leiria,[LER_MAIS] sediada em Porto de Mós.
As culturas na zona da Serra de Aire e Candeeiros têm sofrido com a presença dos javalis, reforça José Augusto, presidente da Cooperativa de Olivicultores de Fátima. Invadem quintas de hortícolas, fruticultura e vinhas, à procura de comida e de água, destruindo materiais de rega, comenta José Augusto, que investiu 650 euros em cercas eléctricas em duas das suas propriedades.
“A serra está seca, os javalis têm pouco para comer e procuram os campos dos agricultores, que andam furiosos”, explica.
O alargamento dos períodos em que a caça é permitida e o aumento do número de animais abatidos, dos actuais 20 mil por ano para cerca de 26 mil, nos próximos dez anos, é uma das medidas previstas no plano estratégico para controlar a população de javalis no País.
Cerca de 400 mil javalis em Portugal “é uma carga muito acima do que o território nacional consegue suportar. O número apurado evidencia um claro desequilíbrio”, afirma Carlos Fonseca, investigador da Universidade de Aveiro e director-executivo do Laboratório Colaborativo ForestWISE, que integrou a equipa que realizou o estudo.
É preciso “aumentar a capacidade de extracção [abate]” de javalis, que actualmente ronda os 20 mil animais por ano, entre em 20 ou 30% no período de cinco a dez anos, de forma a “gradualmente atingir o equilíbrio”, defende.
Reconhecendo que “as actividades cinegéticas tradicionais não são suficientes”, os autores do estudo admitem que a “profissionalização da caça” pode ser um “complemento a curto prazo” às medidas de controlo através dos métodos de batida e montaria. É ainda proposto o prolongamento do calendário venatório tradicional e a atribuição de incentivos aos caçadores, como o reembolso parcial de despesas de caça.
O ICNF não descarta essa proposta, tendo em conta “a diminuição do número de caçadores e o seu envelhecimento”. Já Jacinto Amaro, presidente da Federação Portuguesa de Caça, demonstra abertura por parte dos caçadores para fazerem parte da solução, mas entende que não devem continuar a ser as entidades gestoras das zonas de caça a suportar os prejuízos causados pelos javalis.
Porque algumas estão descapitalizadas e porque não devem pagar danos infligidos por animais que até podem vir de outras paragens. Terá de ser o Estado a assumir, considera.