Formou-se em microbiologia pela Universidade de Lisboa e, conduzida pelo desejo de “contribuir para o desenvolvimento de novos tratamentos”, acabou por enveredar pela área dos ensaios clínicos. Natural de Porto de Mós, Diana Alves, 33 anos, trabalha actualmente numa farmacêutica inglesa (Micron Group), onde faz a monitorização e coordenação desse tipo de ensaios na área da oncologia, mas também em doenças raras e infecciosas. No Reino Unido desde 2011, já fez voluntariado numa associação de apoio a sem-abrigo.
A decisão de deixar o País aconteceu na recta final do mestrado, quando se sentiu “um pouco perdida” sobre o rumo a dar ao seu percurso. “Não sabia se queria continuar a fazer investigação, mas sabia que não queria ir para um laboratório fazer análises rotineiras”, recorda. Nessa fase de indecisão, entusiasmou-se pela terapia fágica, uma área da microbiologia que “envolve o estudo do uso de bacteriófagos, vírus ‘parasitários’ das bactérias, como forma de combater as mesmas, evitando o uso de antibióticos”.
Após alguma pesquisa, contactou investigadores e professores que a ajudaram a perceber que existem empresas focadas no desenvolvimento desta área. Uma delas acabou por apoiar a sua candidatura a uma Bolsa Leonardo da Vinci, que viria a conseguir, mudando-se para o Reino Unido. [LER_MAIS]nicialmente seria por seis meses, para trabalhar num projecto de investigação sobre o uso de bacteriófagos no tratamento de mastite bovina, mas “vieram mais oportunidades” e Diana Alves foi ficando.
Concorreu, depois, a uma bolsa de doutoramento, atribuída por uma organizarão governamental britânica – Engineering and Physical Sciences Research Council -, para desenvolver tratamentos para a recuperação de doentes com feridas crónicas. A investigadora teve a colaboração de um grupo do Departamento de Química da Universidade de Bath, instituição onde, durante o doutoramento, deu aulas práticas a alunos de licenciatura e mestrado. Um procedimento “comum” em Inglaterra, que permite aos doutorandos dar assistência a professores, “assegurando que os alunos seguem os protocolos”, explica.
Contribuir para novos tratamentos Concluído o doutoramento, seguiuse o pós-doutoramento, também na Universidade de Bath e na área da terapia fágica. “Não estava muito convencida de que queria seguir a carreira académica. Sabia que queria continuar na minha área de especialização (terapia fágica) e poder contribuir para o desenvolvimento de novos tratamentos e estar envolvida na sua regulamentação, de forma a obter a sua aprovação e disponibilidade a todos nós”, conta.
Acabou por apostar na área dos ensaios clínicos, tendo sido admitida na Micron Group, “uma empresa pequena e, por isso, ideal” para o seu desenvolvimento profissional, diz Diana Alves, frisando que está “intensamente envolvida em todo o processo do ensaio clínico”, tendo, assim, a oportunidade de adquirir ferramentas que ambiciona.
No Micron Group, a jovem investigadora dedica-se à “monitorização e coordenação de ensaios clínicos”, desde o desenvolvimento do protocolo e a sua submissão às autoridades reguladoras e comités de ética, até à sua implementação e condução. O seu trabalho envolve também a identificação de equipas clínicas capazes de recrutar pacientes e executar os ensaios e a sua articulação com os vários parceiros, como equipas de distribuição do medicamento e laboratórios de análise, assim como o “treino” das equipas clínicas e farmacêuticos.
Neste momento, Diana Alves está a trabalhar em vários ensaios oncológicos, mas também em doenças raras e doenças infecciosas. A maioria decorre em hospitais ou clínicas privadas do Reino Unido. “O serviço nacional de saúde britânico promove e apoia muito os ensaios clínicos, já que percebe que é uma mais-valia para a população, permitindo-lhe ter acesso prioritário a medicamentos eficazes”, nota a investigadora.
Voluntariado com sem-abrigo
A par do seu percurso profissional e académico, Diana Alves temse dedicado ao associativismo e ao voluntariado. Numa dessas experiências colaborou com a Julian House, uma instituição de apoio a sem-abrigo na cidade de Bath. À sua responsabilidade, a jovem tinha a confecção de refeições para 15 a 20 pessoas.
“Contactar com a realidade em que vivem muitos dos nossos semelhantes tem sempre a virtude de nos alargar a consciência do mundo em que vivemos. Aprendemos assim a estar atentos e preparados para ajudar sem questionar”, diz Diana Alves, que em Portugal também já tinha feito voluntariado na associação Candeia, que trabalha na área da animação infanto-juvenil.
Em 2014 e 2015, foi vice-presidente da Associação Portuguesa de Investigadores e Estudantes do Reino Unido.