José Amoroso, professor do Departamento de Motricidade Humana e Linguagens Artísticas da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Politécnico de Leiria, defende que a auto-arbitragem, em que os jogadores tomam decisões sem qualquer intervenção de árbitros, procura educar para a importância ética de cada desporto.
Segundo uma nota de imprensa do Politécnico de Leiria, este é o sistema que o também investigador integrado do Life Quality research (CIEQV), board member da World Flying Disc Federation (WFDF), antigo presidente da Associação Portuguesa de Ultimate e Desportos de Disco e fundador dos Leiria Flying Objects (LFO) está a tentar implementar nos desportos colectivos como o futebol até aos 10 anos.
É através de um primeiro contacto iniciado na Bélgica em 2000 como aluno Erasmus, que o ‘chair’ do Comité do Espírito do Jogo na WFDF traz a experiência. O Ultimate é um dos poucos desportos do mundo auto-arbitrado, lê-se no mesmo comunicado.
“A WFDF procura garantir que o desporto é justo e ético e uma prova de que funciona é que a Federação criou o prémio ‘Espírito do Jogo’, tão cobiçado quanto vencer o torneio em si.”
“Em Portugal, estamos a procurar implementar este tipo de sistema no futebol, concretamente nas camadas até aos 10 anos de idade. Acreditamos que esta medida irá tornar o futebol num desporto mais ético, menos conflituoso e irá dar bases éticas às nossas crianças que aplicarão não só no futebol como na sua vida”, adianta José Amoroso, citado no comunicado.
Segundo o docente, “os estudos evidenciaram que os valores de espírito de jogo diminuem nas finais, assumindo que esta fase da competição representa um contexto competitivo substancial e os jogadores podem ser influenciados a negligenciar os seus valores éticos com vista numa vitória ambiciosa num grande campeonato”.
“No entanto, os atletas de Ultimate definem o seu sucesso em termos auto-referenciados, como por meio do domínio de determinadas tarefas ou da melhoria das suas próprias habilidades pessoais”, acrescentou.
O comunicado refere ainda que o “conceito de auto-arbitragem parece melindrar a maioria dos desportos do mundo”.
“O desporto rei em Portugal tem tanta agonia a sistema que actualmente colocou em prática o sistema de vídeo-árbitro (VAR), que tem como objectivo ser um sistema de auxílio ao árbitro principal. No seu conjunto, o VAR precisa da colaboração de cerca de sete árbitros para conseguir funcionar em plenitude”, lê-se na nota.
José Amoroso afirma ainda que “é normal que exista um determinado cepticismo face ao facto de existir um desporto que seja auto-arbitrado, uma vez que estamos habituados a que existam árbitros e que a nossa cultura impõe, na maioria das situações opcionais, terceiros que procurem facilitar ou desempatar a decisão”.
“Mas a verdade é que Ultimate sugere que pode efectivamente ser utilizado e que jogar com bom espírito pode prevalecer e fortalecer o desporto”, remata.
Ao abrigo da RUN-EU o professor encontra-se na Széchenyi István University na Hungria a trabalhar nos dados obtidos no Campeonato do Mundo U24, que se realizou de 2 a 8 de Julho em Nottingham, juntamente com investigadores da Austrália, Bélgica, Brasil, China, Chipre, Estados Unidos, Hungria e Reino Unidos.
Na Hungria procura igualmente operacionalizar o ‘Espírito de Jogo’ com a colaboração de György Korsós ex-jogador da Seleção Nacional Húngara e Director do Bácsa Futebol Clube.