“A parte mais esquisita é parecer que estou a falar sozinho.” As palavras são de Pedro Marques, docente da licenciatura em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico de Leiria, que teve a sua primeira experiência a dar uma aula virtual na segunda-feira.
Segundo relata ao JORNAL DE LEIRIA, na escola é usual realizarem-se reuniões remotas ou dar apoio a estudantes por skype, mas “são casos pontuais”. Com a situação epidemiológica do Covid-19, o Governo decretou o encerramento das aulas, para garantir o isolamento social e evitar a propagação do novo coronavírus.
O Politécnico de Leiria suspendeu todas as aulas presenciais, mas substituiu-as por actividades lectivas online, levando a efeito o encerramento das cinco escolas seguindo a determinação do Governo.
“As aulas continuam a decorrer. Obriga-nos, a nós professores, a preparar melhor a matéria, e a encontrar a melhor forma de a passar aos alunos. Temos usado plataformas online como a Microsoft Teams ou a Zoom”, explica Pedro Marques.
O docente ficou muito satisfeito com a resposta dos alunos, que ‘compareceram’ – como quem diz estavam ligados – à hora marcada e interagiram com o professor.
“Fui-lhes pedindo para falarem para não parecer que estava sozinho. Nas aulas teóricas, este método acaba por ser uma réplica muito fiel do que se passaria na sala de aula. Falta o quadro, que dá muito jeito para explicar melhor algumas dúvidas que surjam, mas vamos encontrando alternativas.”
Pedro Marques salienta que a “nova geração” está “mais sensibilizada” para a utilização destas ferramentas, pelo que a receptividade é “boa”. O problema são os casos pontuais que ainda existem: “nem nos lembramos que há pessoas que podem não ter um computador ou uma rede com banda larga suficiente para aguentar as transmissões”.
Simulação substitui prática
Nestes casos, a escola irá encontrar soluções. Hugo Gomes, coordenador da licenciatura em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, aponta a gravação das aulas para disponibilizar a posteriori como uma forma de chegar a todos. “As aulas teórico-práticas podem manter-se: o professor disponibiliza os exercícios, os alunos fazem-nos e depois são colocadas as resoluções na plataforma moodle. O problema são as aulas práticas”, admite.
Hugo Gomes explica que, nesta licenciatura, as aulas práticas exigem muito hardware.
Neste momento, o grupo do Conselho Científico e Pedagógico do curso entendeu substituir a prática por trabalhos de simulação, mas as licenças de determinados programas podem ser um entrave a esta solução.
“Estamos a avaliar todas as situações e vamos reunindo para encontrar as melhores respostas”, confessa o coordenador, ao referir que a avaliação do segundo semestre pode sofrer alterações.
“Ainda não sabemos como as coisas vão evoluir. Há a possibilidade de realizar testes online (pode-se sempre argumentar que não há a certeza se é o aluno que o vai fazer) ou estender o período de avaliação, estabelecido entre 2 e 29 de Junho”, revela.
Cada dia é uma incerteza. Hugo Gomes afirma que os coordenadores de curso estão em articulação com os directores das respectivas escolas e com a presidência do Politécnico de Leiria.
Se esta quarentena se estender para depois de Maio, há até disciplinas que terão de ser substituídas. “Temos uma cadeira laboratorial, onde os alunos põem em prática o que aprenderam nas aulas teóricas. Teremos de reestruturar essa cadeira. Não será fácil. São desafios que nos estão a ser colocados, que nunca tínhamos encarado e que nos força a ir buscar novas soluções, que até podem vir a servir no futuro”, destaca.