“A história que se segue aconteceu comigo, no mês de Janeiro de 2023, em Leiria, mas podia ter acontecido com qualquer pessoa, em qualquer mês, em qualquer cidade.”
É assim que Ana Faustino inicia o seu testemunho na sua página de facebook. Um relato que afirma ao JORNAL DE LEIRIA ter tornado público para alertar para o perigo que se pode correr ao perder de vista o copo da sua bebida.
Numa sexta-feira, como outras tantas, Ana Faustino, 40 anos, foi dar um pezinho de dança com uma amiga numa discoteca em Leiria. Depois de uma semana de trabalho era um momento de descontração. A noite e a música estavam agradáveis e Ana estava longe de imaginar o que iria passar quando regressasse a casa.
“Pousei o copo numa mesa, enquanto dançava na pista com a minha amiga. Cerca de 15 minutos depois fomos embora. No caminho para casa comecei a sentir tonturas, a ficar com a visão turva, a afunilar e a ter a sensação de velocidade à minha volta, quando até ia a conduzir devagar. Só tinha bebido duas cervejas, pensei que estivesse indisposta”, revela.
Ao chegar a casa começaram os vómitos e a diarreia e pouco depois desmaiou. Esteve cerca de uma hora sem sentidos, sozinha, no chão da casa de banho.
Ao acordar sentiu “tremores horríveis e incontroláveis e a boca e língua secas”. Com a cabeça a andar à roda e sem conseguir quase levantar-se contactou a amiga e juntas perceberam que Ana Faustino tinha sido drogada. Ao contrário da maioria, a vítima apresentou queixa na PSP de Leiria e foi ao Instituto de Medicina Legal para fazer testes.
“Disseram-me que esta droga permanece no organismo cerca de quatro a cinco horas e depois é praticamente indetectável”, adianta.
Após ter publicado a sua história, Ana Faustino recebeu vários contactos de pessoas a assumirem que já tinham passado por algo idêntico e outras que até foram vítimas de furtos, ao terem acesso ao MBWay da vítima, do qual fizeram transferências.
“As pessoas não apresentam queixa, talvez por vergonha. Eu própria, logo a seguir, senti vergonha e um sentimento de culpa. ‘Fui desleixada, pus-me a jeito’. Depois parei para pensar e claro que não tive culpa nenhuma. Há pessoas que não têm escrúpulos”, lamenta.
Vários relatos
O JORNAL DE LEIRIA teve conhecimento de outro caso com uma jovem, que estava numa festa de colectividade. Na casa de banho pousou o copo e ‘apagou’.
Os relatos não diferem muito uns dos outros. “Já me aconteceu o mesmo e só me apercebi que fui drogada no dia seguinte, alertada pela pessoa que me ajudou após bater com o carro. Infelizmente este problema está a aumentar, mesmo não largando o copo.”
“Aconteceu-me o mesmo… A mim e ao amigo que estava comigo. Três imperiais cada um e já não sabíamos o caminho para casa. Pode parecer brincadeira, mas não teve graça nenhuma.”
“Infelizmente também me aconteceu. Felizmente não desmaiei, mas de resto tive os mesmos sintomas. Os meus próprios amigos disseram que estava completamente alterado.”
“Aconteceu o mesmo comigo. E nunca abandonei o copo. Já vinha assim do balcão.”
“Também já me aconteceu depois de duas imperiais. Não me lembro de nada. O que vale é que tinha amigos comigo e ajudaram-me.”
“Aconteceu algo idêntico também a um amigo do meu namorado. Colocaram algo na bebida e o que fez alertar o rapaz foi a bebida ter uma cor diferente. Não chegou a beber. Na altura aperceberam que tinha sido um indivíduo que estava continuamente a vigiá-los, apertaram com ele e ele disse que aquilo era para se divertir.”
Estes são alguns dos testemunhos deixados na publicação de Ana Faustino, que aconselha a quem passar por uma situação idêntica a dirigir- -se de imediato ao hospital e a contactar a polícia, a quem a vítima agradece toda a compreensão e apoio.
Em resposta ao JORNAL DE LEIRIA, o Comando Distrital da PSP de Leiria afirma só ter uma denúncia nos últimos 12 meses.
José Figueira afirma que sem denúncias não é possível perceber a frequência com que estas situações acontecem, pelo que também insiste para que qualquer caso seja relatado à polícia.
O comandante distrital recomenda a quem sai à noite a estar com pessoas que conhece e da proximidade das suas relações. “Não aceite bebidas oferecidas por estranhos nem abandona a bebida por momento algum. Pessoas que saem sozinhas estão também mais vulneráveis”, alerta.