O cinquentenário da Revolução dos Cravos foi celebrado pela esmagadora maioria do País. Foi um momento de alegria coletiva, partilhada em comunidade, na rua. As maiores manifestações em décadas reuniram milhões de pessoas de cravo em punho em todo o País. Jovens, adultos, crianças, velhos, juntas a celebrar a Liberdade! Foi bonita a festa do Povo, pá! (o mote bem escolhido para os festejos organizados pela Câmara Municipal de Leiria).
Mas a festa não acabou no dia 25 de Abril. Longe disso. A festa continua a cada dia em que vivemos em Liberdade. A festa vê-se em cada conquista motivada por Abril. Vê-se na diminuição da mortalidade infantil e no aumento da esperança de vida, graças ao Serviço Nacional de Saúde. Vê-se no fim da fome e da miséria desesperante que eram regra, sobretudo no mundo rural, devido à Segurança Social para todos.
Vê-se no desaparecimento do analfabetismo e no aumento do número de licenciados, graças a mais anos de escolaridade mínima obrigatória e do acesso massificado ao ensino superior, com a criação de novas instituições. Vê-se nas famílias, com o fim da subalternização das mulheres, o fim dos filhos incógnitos, a legalização da homossexualidade, a descriminalização do aborto, a permissão da eutanásia. Vê-se na laicidade do Estado que deixou o proselitismo religioso. Vê-se na liberdade de expressão, de reunião, e de manifestação. Vê-se em cada eleição, em que livremente escolhemos os nossos representantes.
Há ainda muito mais a fazer. É essa a beleza da festa da democracia: não queremos só um cheirinho de alecrim, somos exigentes e insatisfeitos. Queremos melhores condições no SNS, queremos reformas melhores, escolas com melhores condições, igualdade de rendimentos, de representação e de poder entre homens e mulheres, melhores políticos.
As sementes dos cravos estão no jardim, basta que sejam tratadas para florir ano após ano. No final da manifestação em Leiria, vi uma senhora que aparentava uns 80 anos, amparada pela filha, enquanto chorava compulsivamente ao ver os manifestantes a passar por ela. Não a conheço, nem fui falar com ela. Mas estou certo de que a emoção que ela sentia, vendo milhares de pessoas em liberdade a celebrar, foi por se lembrar o quão diferente é viver em Democracia.
Eu agradeço a toda a geração dessa senhora por terem construído o regime democrático em que vivemos. Agora, é responsabilidade da minha geração preservar a Democracia, manter a festa bonita para a próxima geração! 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990