Da última vez, disse-vos que seria sempre o coração a falar. Hoje, para bater a bota com a perdigota, falo-vos de amor, e ainda que existam muitas formas, referir-me-ei aqui ao amor romântico. Não sou terapeuta de casal nem pretendo sê-lo. A minha psicologia é a do neurodesenvolvimento. Contudo, atraem-me as relações conjugais, mais propriamente o que as faz perdurar.
Como sobrevive o amor quando a sua neuroquímica perde vigor e a rotina se instala? A coabitação é um mundo de vicissitudes e nem sempre um porto seguro. O número de divórcios/separações é disso indicador e questiono-me, sem meter a colher entre marido e mulher, se se tende a optar pela solução mais fácil – a rutura – porque o caminho da pacificação é turbulento.
Obviamente que o “até que a morte nos separe” é discutível. Já lá vai o tempo em que a submissão e a sujeição eram imperativos. Espero também que conformidade não seja palavra de ordem e que não se viva prescindindo da autenticidade individual a favor do “nós”.
Sermos honestos e felizes é basilar. Certo é que todas as relações passam por crises. Aceitá-las é indispensável, mas do aceitar ao ultrapassar há um caminho que nem todos fazem, apesar da literatura dizer que precisamos de relações duradouras para uma plena realização afetiva (diz que é assim desde os antepassados hominídeos que ao estabelecerem relações viam aumentada a sobrevivência). Há, de facto, necessidade de conexão ao outro desde que nascemos, parecendo ser a vinculação ao nosso cuidador primário um preditor do tipo de vinculação que adotaremos em adultos nas ligações afetivas.
Assim, conhecer o nosso estilo de vinculação parece permitir compreender como nos situamos numa relação, refletir acerca do que podemos mudar em nós mesmos e comunicar previamente carências básicas que nos inquietam. Se as necessidades de vinculação forem atendidas, se formos vistos e escutados, se soubermos gerir diferenças, teremos a segurança emocional que alimenta a intimidade e os amores que resistem.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990