Eduardo Cardinho tem já um lugar por direito no jazz, que as parcerias com músicos como o contrabaixista Carlos Bica ou o acordeonista João Barradas contribuem para cimentar. O terceiro álbum no papel de líder (Not Far From Paradise, lançado hoje, 26 de Abril) traz o selo da prestigiada editora Fresh Sounds (de Barcelona, Espanha) e é o mote do concerto no Teatro Stephens, no próximo mês de Julho, na Marinha Grande.
Na estreia do disco ao vivo, em Dezembro, durante a Festa do Jazz no Centro Cultural de Belém, o texto assinado por António Branco no site jazz.pt não deixou de o considerar “um dos vibrafonistas mais criativos da sua geração”, actualmente com 31 anos, antigo aluno da Filarmónica de São Tiago de Marrazes e do Orfeão de Leiria.
Antes de ingressar, no início do ensino secundário, na Escola Profissional de Música de Espinho, de onde seguiu para se licenciar na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) do Porto e depois para o mestrado no Conservatorium van Amsterdam, nos Países Baixos, Eduardo Cardinho, que é natural de Leiria, começou pela bateria, muito cedo, aos seis anos de idade, aprendeu percussão de orquestra, interessou-se – “vidrado” – pela marimba e só mais tarde se fixou – “fascinado” – no vibrafone. Sem abandonar as baquetas, nos últimos anos tem dedicado cada vez mais horas aos teclados, que se tornaram no instrumento de eleição para compor.
Em Not Far From Paradise, Eduardo Cardinho toca vibrafone e sintetizadores e faz-se acompanhar de outro músico originário dos Marrazes, o baterista Diogo Alexandre, mais novo, mas já uma referência. “É só o baterista com quem eu mais gosto de tocar em Portugal”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “Um baterista com técnica acima da média”, “especial”, “muito criativo”, capaz de assinar “grooves e beats que não são nada expectáveis” e com “muito ouvido para a improvisação”.
Participam também João Mortágua (saxofone), José Diogo Martins (sintetizadores e piano Rhodes), o brasileiro Frederico Heliodoro (baixo eléctrico e guitarra) e Iuri Oliveira (percussão), além de João Barradas, convidado em duas faixas.
O título Not Far From Paradise serve de analogia com o confinamento na pandemia de Covid-19, período em que o álbum começou a revelar-se. “Escrevi uns 30 temas”, conta Eduardo Cardinho. “Escolhi aqueles que faziam mais sentido juntos, que faziam parte da mesma viagem”. Oito, no total. O resultado, explica, “é jazz”, mas “tem muita influência de rock, de pop e de outras estéticas musicais”, incluindo “muita vibe brasileira”.
Com produção de Frederico Heliodoro (que trabalhou com Milton Nascimento) e do próprio Eduardo Cardinho, foi gravado nos estúdios Arda Recorders no Porto por Zé Nando Pimenta, que, ainda segundo Eduardo Cardinho, fica como “um dos grandes responsáveis pelo som incrível que o disco tem”.
Há muito para destacar no percurso do vibrafonista, compositor e produtor originário de Marrazes que tem vindo a afirmar uma voz e identidade em registos de longa duração como Black Hole (2016) e In Search of Light (2019), ambos como líder. Já gravou como sideman com Bárbara Tinoco e com o baterista e produtor Fred, e, no jazz, o rol de colaborações é realmente extenso. “Pensar em música de manhã à noite até ir dormir e no outro dia começar outra vez” é o segredo por trás de vários prémios nacionais e internacionais. “Nunca sinto que trabalho, é o que eu mais gosto de fazer”.
A viver no Porto, Eduardo Cardinho dá aulas na Universidade de Aveiro e na Escola Profissional de Espinho e é director artístico da Orquestra Jazz de Espinho, com que vai editar um álbum em 2024.