Ao contrário dos humanos, os animais quando necessitam escolher quem os conduza elegem sempre o mais capaz da sua espécie. Creio que assim seja, pois não sou entendido na organização grupal das diferentes espécies de bichos que connosco partilham o Planeta, sendo o que digo o pouco que cabe saber a quem não tem assinatura do National Geographic Channel.
Fará o obséquio, o caro leitor, de considerar esta minha manifesta e pública declaração de ignorância como a única certeza que sairá escorreita destas palavras que por aqui vou alinhavando para honrar o compromisso que tenho com este jornal.
Sim, que nesta porção de vida que me sobra pouco mais me resta que honrar a palavra dada, coisa que em tempos idos se firmava com um solene aperto de mão e uma troca de olhares onde cada um expunha a alma para que o outro soubesse da porção de verdade que lhe assistia e que a palavra dada seria uma palavra honrada. Mas isso era em tempos idos, quando por cada vez que um povo ia a votos lavrava com a enxada da caneta as leiras do seu futuro.
Não estou com isto a querer dizer que “antes é que era bom”, ou que “no meu tempo é que era” e outras falácias com que saudosistas sem pudor nos querem fazer crer que injustiças de outrora justificavam os atropelos às mais elementares regras da democracia e da liberdade. Nada disso, que o meu tempo é este em que estou vivo, que testemunho e no qual intervenho na proporção escassa do meu entendimento e valia para fazer e agir.
O tempo de que falo foi de há pouco, um tempo em que a expressão “o voto é uma arma” estava carregada de sentido e de vontade em querer construir um mundo melhor, mais justo e onde todos tivéssemos lugar e função. Os tempos de hoje perecem ser diferentes e tenho dificuldade em os interpretar com clareza.
As humanas animálias insistem em eleger para os governar os mais humanamente inaptos. Escolhem umas criaturas que parecem não aderir à realidade que os circunda, lunáticos e fanáticos, cuspidores de ódio, impotentes e flácidos que como todos os fracos humilham o outro para se sentirem poderosos e assim esconder a sua mediocridade de ignomínia.
Ao que vejo e entendo, por esse mundo fora o fenómeno repete-se. Mentecaptos endinheirados compram a alma dos eleitores e assim ganham eleições. Desgovernados mentais mantêm-se no poder sonegando resultados aos opositores.
Termino assim que me falta o fôlego. Vou procurar programas sobre a vida selvagem em canais de televisão sem subscrição, que me quero sentir minimamente humano.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990