Com 2024 a terminar, surge mais uma boa notícia para a arbitragem feminina no distrito de Leiria. Cristina Vicente e Rita Ferraz são as primeiras mulheres árbitras da Associação de Futebol de Leiria (AFL) a receber a insígnia da FIFA e, a partir de Janeiro, podem ser chamadas para dirigir jogos internacionais.
Como tantos outros colegas, a carreira para estas duas árbitras começou quase por acaso. Cristina Vicente lembra que, em 2013, ainda a frequentar o ensino secundário, sofreu uma rotura do ligamento cruzado anterior e no menisco, diagnóstico que comprometia a sua continuação no futsal distrital.
Sempre esteve ligada ao desporto e não quis que esta lesão a impedisse de manter a actividade física. Ouviu falar no curso de árbitros promovido pela AFL e tomou a decisão. “Goto de desporto, também não perdia nada e ia aprender alguma coisa”, recorda.
Um dos irmãos acompanhou-a nesta aventura da arbitragem no futsal, longe de imaginar que chegaria até aos quadros da FIFA, mas na arbitragem de futebol de praia feminino.
Todos os anos há provas de acesso para os árbitros subirem de classificação e ajuizarem novos campeonatos. Com vontade de avançar na carreira, Cristina Vicente foi prestando provas, apesar de estes momentos não lhe trazerem boas memórias.
Em várias situações, este momento de avaliação foi acompanhado por lesões, que sempre conseguiu ultrapassar. “Em 2019, nas provas de acesso, faço rotura do ligamento cruzado da perna direita. Ainda consegui fazer as provas, a chorar e com a perna toda ligada. Subi ao quadro feminino nesse ano”, exemplifica.
O curso de arbitragem de futebol de praia foi tirado em 2021 e na época passada Cristina Vicente subiu ao quadro C3, categoria que manteve esta temporada, no quadro feminino.
Numa altura em que se fala de igualdade no desporto, a juíza afirma que, no mundo da arbitragem, as mulheres têm mais oportunidades. “Na arbitragem, as mulheres têm mais sorte se trabalharem e forem dedicadas, porque temos sempre dois caminhos: o quadro de árbitros misto ou o feminino. Os homens só têm o misto”, detalha.
Ao longo de vários anos a dirigir partidas, Cristina Vicente manteve o foco e a dedicação, com a ambição de melhorar cada vez mais, e é este esforço que acredita estar na génese da distinção da FIFA.
“Não sou eu que sou melhor que as outras, acho que mostrei que trabalho no futsal e no futebol de praia e as coisas correram bem. Procurei melhorar a cada jogo”, afirma.
Natural da Benedita, em Alcobaça, esta profissional arbitra a campeonato nacional sénior feminino no futebol de praia, além dos campeonatos distritais masculino e feminino. No futsal, apita a 3.ª divisão nacional, todas as divisões femininas e os escalões nacionais de formação.
“Para andar na arbitragem, até chegar ao nacional, tens de gostar do desporto e de arbitrar. Não se pode andar cá pelo dinheiro. Tentamos falhar o menos possível, mas o nosso objectivo – e o que nos apaixona – é tornarmos o jogo o mais justo e correcto possível.”
Com a ascensão a árbitra internacional, “muda a responsabilidade”. “Para mim, o que muda é o trabalho e a responsabilidade. Tenho de continuar a trabalhar mais e passa também por corresponder a quem acreditou em mim.”
Apesar da experiência, o nervoso miudinho fá-la colocar a pergunta: “será que vou estar à altura?”. No entanto, a vontade de fazer mais e melhor leva-a a estar “deserta para ser chamada”.
A colega Rita Ferraz, de 27 anos, também nutre a mesma paixão pela arbitragem. Foi na época 2017/2018 que, desafiada por um amigo, tirou o curso de árbitro. “Acabei por gostar”, confessou.
Todos os anos subiu de categoria até ao quadro C2 e, à medida que ia escalando, definia novos objectivos. “Quando tirei o curso, queria chegar à federação. Depois disso, o objectivo era o internacional”, refere.
É, actualmente, a única mulher C2 no País a ser internacional na arbitragem de futsal feminino e considera que a arbitragem é um mundo de “desafios constantes”. “Temos decisões a cada milésimo de segundo. Somos humanos, vamos errar, e o objectivo é errar o mínimo possível.”
Nascida na Golpilheira, concelho da Batalha, Rita Ferraz pode ser vista a arbitrar jogos de futsal até à II Divisão Nacional. Nas competições femininas, pode arbitrar em todos os campeonatos. Com a distinção da FIFA, tem agora a possibilidade de ir além-fronteiras. “É um sonho tornado realidade”.
Árbitros internacionais batem recorde
Em 2025, Portugal terá 44 árbitros internacionais, um número que constitui um novo recorde de insígnias da FIFA, depois do máximo de 39 alcançado este ano. Quanto aos árbitros da AFL, mantém-se no futebol Fábio Veríssimo e António Nobre e, nos árbitros assistentes no futebol masculino, estão Nelson Pereira e Pedro Martins. Cristina Vicente e Rita Ferraz completam o lote de árbitros da AFL com as insígnias da FIFA.