No início de Outubro, as pontes da cidade de Leiria vão juntar não apenas margens, mas também pessoas de diferentes meios, culturas, origens ou mundos artísticos díspares.
Esta é uma ideia subjacente à iniciativa Pontes de Contacto, integrada no eixo programacional do congresso O Futuro da Nossa Cidade – Um Congresso em contínuo, da Rede Cultura 2027, entidade coordenadora da candidatura de Leiria a Capital da Cultura, que acontece de 9 de Maio a 24 de Outubro.
O objectivo é promover elos e aproximar pensamentos e pessoas, através de várias acepções e conceitos e da utilização simbólica das obras de arte de engenharia e arquitectura, que atravessam o Rio Lis.
Segundo a organização, a data marcada para atravessar estas pontes será o dia 5 de Outubro.
O Pontes de Contacto é um dos “projectos farol” do congresso, e promete distinguir Leiria como “cidade de pontes”, ela própria materializando-se numa ligações entre margens, unindo os vários territórios, as populações e ideias que constituem a candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027, promovendo mesmo novas pontes.
Ao todo, serão seis as ligações sobre o rio utilizadas, numa zona delimitada entre a Ponte Bar, nas traseiras do Museu de Leiria, dedicada à Arquitectura, e a ponte do açude, junto à Fonte Quente.
Para unir aquilo que obstáculos físicos, ideias ou espaços temporais afastam, foram convidados artistas e organizações, para criar performances em diversas áreas criativas.
A professora de Dança Clara Leão abordará a Dança, com o tema Gerações, o Atelier Parto ficará com a Arquitectura, num exercício baptizado Homem-Máquina, o projecto Bateria utilizará a música para ilustrar a Ligação Entre Culturas, a SAMP lançará [LER_MAIS]mão à performance Erudito Popular, a Livraria Arquivo abraça a Literatura, com o tema Liberdade-Prisões, e a InPulsar explorará as Artes Plásticas a partir do pilar Religião, Religiões, Fé.
Por fim, o fotógrafo Ricardo Graça mergulhará no mundo fotográfico com a dualidade Rural e Urbano, atravessando não numa ponte mas um túnel, metáfora física sobre a luz e a escuridão, que liga pontos, separados por um obstáculo.
“O grupo à frente da organização do eixo Gerações conta com pessoas muito jovens e outras idosas, com o objectivo de perceber ‘o que é a cultura’. Há afastamentos e proximidades muito grandes”, aponta Paulo Lameiro, um dos elementos do colectivo.
Juntam-se-lhe Patrícia Martins, Sarha Kunz, João Luz, Telmo Soares, Fernanda Sousa e Tânia Mourato. Mas como se construirão estas pontes?
Clara Leão levanta a ponta do véu e deixa-nos vislumbrar o que está a preparar, para a segunda de todas as artes, depois da Música.
“Tenho alunos de Dança, com 2,5 e 76 anos e, recentemente, também me mudei de uma margem do Rio Lis para a outra. Isso pôs-me a pensar sobre como é ver o outro lado das coisas e a partir de outra perspectiva. A outra margem é vista como ‘o outro’ e, muitas vezes, não lhe damos uma oportunidade”, reflecte.
Na “ponte da Clara”, junto ao Marachão, ir-se-á explorar, pela Dança, o modo como se chega à “outra margem” e “ao outro”. “Como atravessamos uma ponte? Aos saltos? A correr? Como se aproximam os lados? É a ponte utilizada que liga dois lados da cidade, o centro e o Bairro dos Anjos, uma zona que, durante muito tempo, para quem vivia na margem esquerda, não era Leiria.
Mas essa ideia mudou, evoluiu e o bairro passou a fazer parte da identidade única”, resume a professora de Dança. Desde Maio, o trabalho no eixo Gerações tem incluído seminários online e investigação e Outubro começará em modos streaming e presencial.
No primeiro dia do mês, Dia Mundial da Música, na Marinha Grande, o congresso promove uma Conversa Sobre a Arte e Educação, com Paulo Pires do Vale, comissário do Plano Nacional das Artes, Ana João Romana, artista plástica e docente na ESAD.CR, e Patrícia Martins, animadora cultural.
Sete eixos para erguer pontes
Outubro não trará apenas Pontes de Contacto. Será também o mês dos dias do encerramento d’O Futuro da Nossa Cidade e os resultados dos grupos de trabalho que se ocuparam dos eixos do Congresso.
As sessões estão marcadas para 23 e 24 de Outubro, em Leiria e nas Caldas da Rainha, respectivamente. Para dar uma ideia da dimensão do esforço e do trabalho que está a ser desenvolvido, a organização do evento socorre-se da aritmética: “a Rede Cultura 2027 é constituída por quase 10% dos municípios (26) e da população (805 mil pessoas) de Portugal continental.”
Será preciso erguer inúmeras pontes e cavar vários túneis para transpor os rios caudalosos e unir os vales ensolarados dos concelhos que compõem a candidatura.
Para isso, o grupo de trabalho conta, para já, com sete ferramentas.
“Quando o Conselho Estratégico reflectiu sobre o futuro da candidatura, escolheu sete eixos. O primeiro foi o Marcadores, que se relaciona com tudo aquilo que, no território, nos define e referencia. Um dos trabalhos em curso é a criação de uma hemeroteca digital com alguns dos mais antigos media da região. O segundo foi a Hospitalidade. O escritor Gonçalo M. Tavares está a trabalhar este eixo, onde se trabalha o acolhimento do “outro” e que terá o cardeal Tolentino de Mendonça a encerrar o congresso”, enumera Paulo Lameiro.
A reflexão sobre o que é uma localidade, urbanística, socialmente e tecnologicamente está nas mãos do arquitecto José Manuel Fernandes e do eixo Cidades.
“É um olhar macro, para o local onde vivemos, dialogamos e amamos.” A Criação ficou nas mãos de João Bonifácio Serra, que promove uma exploração sobre todos os tipos de criação, em áreas como as artes, mas também no design, nos moldes e na cerâmica.
Inicialmente, o eixo do Pensamento foi coordenado por José Maria André, acolhendo agora também o contributo de vários docentes do Politécnico de Leiria.
O sexto eixo – Gerações – é coordenado por Paulo Lameiro. Por fim, o sétimo eixo é um verdadeiro “livro em branco”.
Foi deixado numa espécie de pousio sem nome, para ganhar força e dar espaço a quem não se revê nos restantes eixos e queira contribuir.