Dois anos depois de Américo Sebastião ter sido raptado em Moçambique, a mulher do empresário do Bombarral foi recebida ontem pelo Papa Francisco. Salomé Sebastião terá pedido ao Sumo Pontífice que intercedesse junto das autoridades moçambicanas, para que o marido seja resgatado e devolvido à família, e terá sugerido que reze por ele e por todas as vítimas de rapto e suas famílias.
A residir em Moçambique desde 2001, Américo Sebastião foi raptado no dia 29 de Julho de 2016, nas bombas de combustível de Nhamapaza, na província de Sofala, de onde terá sido levado por homens fardados, que o terão transportado numa “carrinha de marca Mahindra, de cor cinzenta, tipo de veículo que é frequentemente utilizado pelas Forças de Segurança Moçambicanas”.
Desde então, nunca mais foi visto. Como era habitual, nesse dia, Salomé Sebastião ligou ao marido, mas o telemóvel estava sem rede, como sucedia tantas vezes. Estranhou, contudo, que não lhe retribuísse as chamadas.
As más notícias chegaram às 17 horas, quando um dos sócios da empresa liderada por Américo, ligada à agricultura e à pecuária, lhe ligou a dizer que o marido tinha sido raptado, quando estava a abastecer a viatura.
Raptores não contactaram família
“Naquela altura, era comum raptarem as pessoas e, passados dois ou três dias, libertarem-nas”, recorda Salomé Sebastião. Contudo, tal não sucedeu com o marido. Não foi pedido resgate nem houve qualquer contacto da parte dos raptores, que levantaram todo o dinheiro que Américo tinha na conta, através do cartão multibanco.
Salomé garante que existem imagens dessas pessoas [LER_MAIS] a levantar o dinheiro, que se encontram na posse do Serviço Nacional de Investigação Criminal moçambicano. Ao contrário das suas expectativas, o caso foi arquivado pelas autoridades locais e reaberto em Junho, graças à sua persistência e ao facto de ter recorrido a diversas entidades portuguesas e moçambicanas e ainda às Nações Unidas, ao Parlamento Europeu e ao Papa.
Em Julho, a mulher do empresário do Bombarral apresentou no Parlamento uma petição, aprovada pelos deputados, em que é recomendado ao Governo que reforce os contactos com as autoridades moçambicanas, reitere a disponibilidade para cooperar com as entidades judiciárias e policiais locais, solicite ao governo moçambicano esclarecimentos sobre os progressos da investigação, e aborde o assunto junto da União Europeia e das Nações Unidas.
A última iniciativa de Salomé foi uma vigília à porta da Embaixada de Moçambique, em Lisboa, no dia em que passaram dois anos do desaparecimento do marido. O comunicado, a apelar à participação na concentração, foi enviado pela eurodeputada socialista Ana Gomes.
“As autoridades de Moçambique há dois anos que prometem à família e às autoridades portuguesas estar a diligenciar para o localizarem. No entanto, a indispensável cooperação policial e judicial entre os dois países nunca se materializou”, denunciou.
“Dada a complexidade do caso e o facto de Moçambique andar ocupado com o problema da violência no norte do país, creio que seria vantajoso haver colaboração de mais pessoas para que se possa encontrar mais rapidamente o Américo”, defende a mulher do empresário.
“Moçambique já aceitou a cooperação da Polícia Judiciária portuguesa noutros casos de rapto. Não sei por que motivo não aceita neste”, observa. Enquanto o caso não for resolvido, garante que não vai desistir. “Estou confiante que tudo vai acabar bem.”
NOTA: Salomé Sebastião acabou por não ser recebida pelo Papa, por razões que desconhece. Contudo, já foi solicitada uma nova audiência com o Sumo Pontífice. A informação só chegou depois do fecho do jornal.