Para salvar empregos nos Estados Unidos, Donald Trump prometeu, durante a sua campanha eleitoral, que iria impor tarifas entre 10% e 20% sobre todos os produtos importados e 60% para os provenientes da China. Agora, que o republicano venceu e estará de regresso à Casa Branca, empresários e gestores da região de Leiria questionam-se sobre o impacto que o novo presidente terá na economia nacional e internacional.
Detida nos últimos cinco anos pelo fundo de private equity Hcapital Partners, a Icebel, empresa da Marinha Grande, foi este ano totalmente adquirida pelo grupo espanhol And&Or. Fundada em 1986, a Icebel emprega mais de 70 colaboradores e dedica-se à concepção, desenvolvimento, fabrico, montagem e fornecimento de sistemas automatizados, e tem como clientes fabricantes de embalagem de vidro.
Exporta cerca de 60% do que produz, sobretudo para Europa e America (EUA), refere Afonso Cardeira, director-geral da unidade[LER_MAIS] que, em 2023, registou um volume de negócios de cerca de 12 milhões de euros. Sobre a vitória de Trump e das taxas que anunciou, Afonso Cardeira diz ao nosso jornal: “no início há muito show off. Depois, terá de adaptar o discurso, porque os EUA também dependem do que vem de fora. A questão é quanto é que ele levará a sério estas promessas. Gera grande instabilidade nas relações internacionais”, salienta o director -geral.
“Trump visita a Coreia do Norte, visita a Rússia. Com quem se irá aliar? No final, o dinheiro fala mais alto e ele terá de ter atenção com o mundo capitalista da Europa”, observa Afonso Cardeira.
Sediado na Marinha Grande, o Grupo Moldetipo, fabricante de moldes, é totalmente exportador. Tem na Europa o seu principal mercado (60%) além de comercializar também no Irão, Índia, México e Marrocos (onde inaugurou recentemente uma unidade). Rui Silva, responsável pela Moldetipo, explica que a sua exposição no mercado norte-americano é de apenas 3%. Embora, no México, a exposição do grupo seja de 15%. E o México é um país onde muitas empresas norte-americanas têm produção, observa.
Mas o proprietário da Moldetipo acredita que as taxas impostas por Trump serão aplicadas em determinados sectores e países, sendo a concorrência chinesa a mais afectada. Se, ao afastar-se dos EUA, a China vier a aumentar a sua presença na Europa, já não será novidade, salienta Rui Silva.
“Nos últimos 20 anos, a Europa não se reinventou e passou muita produção para a China, que já nos ultrapassou. O que temos de fazer agora é investir em novas tecnologias, como por exemplo em motores híbridos, produzidos na Europa”, advoga o empresário.
A MB Ceramics, de Porto de Mós, distinguida em 2023 como empresa gazela, foi fundada em 2016, por Rita Belo, e dedica-se à produção de cerâmica utilitária de pintura manual. A empresa emprega hoje 30 pessoas e exporta 98% do que produz, para Estados Unidos, França, Espanha, Grécia, entre outros países.
Para já, a questão das taxas prometidas por Trump não a preocupa. “Se os Estados Unidos as aplicarem, estão no seu direito e fazem bem. Cabe à Europa fazer o mesmo, até para se proteger da concorrência da China. Se temos de cumprir normas, receber vistorias, não deveríamos ter de concorrer com países que não fazem o mesmo”, defende Rita Belo, referindo-se, entre outros aspectos, às condições laborais, trabalho infantil, etc.