No distrito de Leiria, 21 farmácias (15,3% das existentes) estão em situação de insolvência ou têm sido alvo de penhoras, de acordo com um estudo realizado pelo Centro de Estudos e Avaliação em Saúde para a Associação Nacional de Farmácias (ANF). Em Setembro de 2013 eram 12.
A nível nacional, são 591 as farmácias nesta situação, ou seja, 20,1% da rede. “No espaço de quatro anos e quatro meses, registou-se um aumento de 247,5% no número de insolvências (mais 151 farmácias) e um aumento de 110,6% no número de penhoras (mais 199 farmácias), aponta o documento.
Mas será que das farmácias em situação de insolvência algumas fecharam nos últimos anos? O estudo divulgado pela ANF não o diz. Questionada sobre esta matéria pelo JORNAL DE LEIRIA, a associação não respondeu até ao fecho desta edição.
Dados da Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, revelam que entre 2011 e os primeiros meses deste ano fecharam 101 farmácias no País, mas 70 reabriram. Somando a instalação de 28 novos espaços, o saldo são apenas três farmácias a menos.
No distrito de Leiria, onde segundo a Infarmed há 136 alvarás de licença emitidos, encerraram provisoriamente quatro farmácias nos últimos anos. Sem divulgar em que localidades, este organismo explica que uma fechou em 2015, mas reabriu em 2016; outra fechou em 2016 e duas encerraram em 2017.
Todas fecharam “no âmbito de processos judiciais de insolvência”, mas algumas “encontram-se em fase de reabertura, com novos proprietários”.
As dificuldades das farmácias agudizaram-se a partir de 2011, mas estabilizaram “ligeiramente” em 2015 e 2016. Ainda assim, “há estabelecimentos em situação financeira muito complicada”, refere Nuno Flora, secretário-geral da ANF, citado num comunicado.
A principal causa para esta situação é a “redução das margens de lucros e o preço dos medicamentos”, acrescenta o dirigente. Nuno Flora admite ainda a dificuldade de acesso aos medicamentos por parte dos clientes, devido à “menor capacidade financeira das farmácias em manter em stock um elevado número de medicamentos”.
A descida dos preços dos remédios e a redução das margens foram, igualmente, os aspectos referidos pelos responsáveis de farmácias ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA como sendo os factores por trás das dificuldades das farmácias. “As descidas nos preços foram tão grandes que tivemos todos de fazer uma grande ginástica”, refere Dulce Caçador.
A directora técnica da farmácia dos Marrazes, no concelho de Leiria, acredita que os estabelecimentos situados em pequenas localidades foram os mais afectados e admite que, no seu caso, a mudança (há cinco anos) da Bidoeira de Cima para o local actual, perto de um centro de saúde, foi benéfica.
“A crise de há três anos abriu muitas feridas. Imagine-se quem comprou uma farmácia há cinco ou seis anos, por um milhão de euros…”, diz esta farmacêutica, adiantando que se antes as farmácias podiam ser consideradas “um negócio de milhões, agora são um negócio de tostões”.
“Temos de negociar com os armazenistas descontos de cinco cêntimos por embalagem. Se antigamente uns cêntimos não faziam diferença, agora fazem, e muita”. “As farmácias não têm margem suficiente para viver”, diz um outro proprietário, que preferiu não ser identificado.
Na actividade há largas décadas, este profissional de Alcobaça aponta a descida dos preços dos medicamentos e a entrada dos genéricos no mercado como os dois principais factores. Esta farmácia foi, aliás, entre Janeiro de 2015 e Fevereiro de 2016, o estabelecimento do distrito de Leiria com a maior quota de venda de genéricos: 56,1%.
“Tenho de me preocupar com a bolsa dos meus clientes e ter genéricos, que são mais baratos”, explica o farmacêutico.
Afirmando que a descida dos preços dos medicamentos provocou uma “grande volta” no sector das farmácias, a responsável por dois estabelecimentos no concelho de Pombal frisa que estas não vendem apenas medicamentos, mas também serviços.
E se “antigamente as margens pagavam isso, agora já não pagam”, o que significa que as farmácias “prestam serviços gratuitamente”. Por outro lado, “estão a financiar o Estado, que paga tarde e a más horas”. Esta profissional, que preferiu não ser identificada, diz que está há 30 anos “atrás do balcão” e garante que, hoje, “mesmo sendo bem geridas”, as farmácias já não têm os lucros que tinham antigamente. “Dá para sobreviver”.
Mas pequenas farmácias situadas em aldeias poderão viver situações mais complicadas e “quem tem dívidas para pagar tem também mais dificuldades”, frisa. Manuela Pacheco, presidente da Associação de Farmácias de Portugal, sublinha que o “contexto de crise económica que se verificou em Portugal nos últimos anos, aliado às sucessivas descidas dos preços dos medicamentos, levaram a graves problemas financeiros e até ao encerramento de muitas farmácias”.
Com isto, “os clientes deixam de ter apoio na área de residência ou não encontram os medicamentos de que necessitam”.
A despesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com medicamentos em meio ambulatório atingiu, no ano passado, 1190 milhões de euros, montante que traduz um aumento de 0,6% face ao período homólogo, segundo dados da Infarmed. O Relatório de Monitorização Mensal revela ainda que no ano passado se registou uma diminuição de 2,4% dos encargos por embalagem para o utente. Foram dispensadas 156 milhões de embalagens de medicamentos, mais 0,6% do que durante o ano de 2015. O mesmo documento dá conta que ao longo dos últimos anos se verificou uma descida do preço médio de venda ao público, que caiu 8,7% desde 2012. O relatório analisa ainda o consumo e despesa do SNS com medicamentos genéricos, revelando que no ano passado foram vendidas 64,5 milhões de embalagens e que os gastos ascenderam a 256,7 milhões de euros, mais 0,3% do que em 2015. Continuam, no entanto, a vender-se mais medicamentos não genéricos, dos quais foram dispensadas no ano passado 91,4 milhões de embalagens, com uma despesa associada de 933 milhões de euros, mais 0,7% do que no período homólogo. Em 2016, a quota de genéricos atingiu os 47,3%, tendo registado um aumento de 0.34 pontos percentuais em relação a 2015. Desde 2012, a quota aumentou 6.1 pontos percentuais.
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