Fábio Caetano começou a acompanhar o mercado de criptomoedas em 2011 e comprou os seus primeiros bitcoin em 2013.
Esta moeda digital tinha surgido no mercado em 2009 e na altura valia apenas alguns cêntimos. Esta segunda-feira estava cotada em cerca de 40 mil dólares.
Na altura, este empresário natural de Parceiros, Leiria, investiu 50 mil dólares, montante com o qual comprou 200 unidades de bitcoin, ou seja, cada uma valia então 250 dólares.
“Dezoito dias depois, valiam o dobro daquilo que tinha investido”, conta ao JORNAL DE LEIRIA.
Fábio Caetano optou então por vender metade, recuperou o capital investido e ainda obteve lucro. A partir daí, foi comprando e vendendo criptomoedas, acumulando perdas e ganhos ao longo destes anos.
O saldo é claramente positivo. “Posso dizer que ganhei o meu primeiro milhão de euros com criptomoedas”, admite o empresário com residência em Lisboa, que frisa que também já perdeu “bastante”.
“Não são apenas vitórias”. É que, sendo este um mercado “muito volátil, é por isso muito arriscado”.
Mas afinal o que são criptomoedas? São moedas digitais, não tangíveis, compostas de bits e bytes de dados. Além disso, a sua emissão e regulação não depende de nenhum órgão ou autoridade central.
O bitcoin foi a primeira moeda descentralizada a rodar na tecnologia blockchain. Surgiu em 2009 e hoje é a mais valiosa, representando mais de 40% do mercado de criptomoedas.
Chama-se mineração ao processo que permite que novos bitcoin entrem em circulação. Mas este processo está cada vez mais dificultado.
“O algoritmo definiu que vão existir no máximo 21 milhões de unidades e a cada quatro anos aumenta a dificuldade e diminui para metade os bitcoins minerados (produzidos)”, conta Fábio Caetano.
Há actualmente no mercado quase 19 milhões de bitcoins, prevendo-se que a última unidade seja minerada em 2140. O processo de mineração também mantém segura a blockchain, rede que regista as transacções com a criptomoeda por meio da criptografia.
Os mineradores trabalham para verificar a validade das informações de um novo bloco, verificando se a transacção com a criptomoeda ocorreu da forma que deveria.
“Se me perguntar se ainda vale a pena investir em bitcoin, tendo em conta o preço, digo que sim. Se vai haver apenas 21 milhões de unidades, sendo que 19 milhões já estão no mercado, tendencialmente deverá valorizar”, afirma Fábio Caetano.
“O que digo aos meus familiares e amigos é: peguem em 10% das poupanças, um valor que não faça falta se o perderem, e invistam”, acrescenta.
“Quem há três anos tivesse comprado mil euros de bitcoin hoje teria mais de oito mil euros. Mas em Outubro passado, quanto atingiu o máximo histórico, seriam 15 mil ou 16 mil euros”, sublinha o empresário.
Com as poupanças tradicionais a renderem praticamente nada, o investimento em criptomoedas “acaba por ser um refúgio”.
Embora tenham desvalorizado como primeiro impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia, tal como o ouro e os mercados financeiros, as criptomoedas apresentam um historial de valorização. “A três anos estamos a falar de aumentos de 859%”, frisa Fábio Caetano.
“A minha primeira compra não correu bem. Investi 250 euros em Xrp, mas não sabia que só tinha acesso às moedas durante seis meses. Perdi o dinheiro”, conta José Vale.
O vendedor, residente no concelho de Leiria, aprendeu com este contratempo e desde há quatro anos que investe regularmente em criptomoedas. “Não sou um grande investidor, sou um investidor pequeno”, sublinha.
José Vale tem investido sobretudo em moedas mais baratas, mas possui igualmente “parte de bitcoin”. É que é possível comprar percentagens desta moeda. “Quem tiver 100 euros para investir pode comprar uma parte”, diz.
Outra das moedas em que tem apostado é o ethereum, a segunda mais valiosa, cotada esta segunda-feira a 2580 dólares. “Há dois anos comprei-a a 190 euros. Hoje a rentabilização do investimento seria de 3000%”, constata.
“Esta moeda já esteve a quatro mil dólares. Mas a cotação caiu. Este é um mercado muito volátil, os investidores estão sempre com medo das notícias. É muito fácil influenciar a flutuação do valor destas moedas”, diz José Vale, que não acredita que a guerra na Ucrânia baixe significativamente a cotação das criptomoedas.
Qual a vantagem de investir em moedas digitais? “Primeiro, ainda é livre de impostos. Depois é um investimento que rentabiliza. Onde é que com 50 euros se podem ganhar cinco mil ou 50 mil em meses? Há poucos negócios assim”.
“Há cada vez mais pessoas a investir em criptomoedas. Há dois anos falava com as pessoas e chamavam-me doido. Agora dão-me razão”, adianta o vendedor de Leiria.
“Mas não se pode comprar por comprar, temos de estar minimamente informados. Há muita gente a ludibriar e a aproveitar-se. Este é um negócio de risco, de maior risco ainda do que outros. É preciso ter mais cuidados do que noutros investimentos. Convém ter um mínimo de conhecimentos”, aconselha José Vale.
“Claro que já ganhei dinheiro com criptomoedas. Não foi muito porque o investimento também não foi muito. Temos de ter sempre em mente o risco. Mas se no final do mês sobram 50 euros que não fazem falta, invistam em criptomoedas, é o futuro”, defende o vendedor de Leiria.
Mais-valias isentas de IRS
Como comprar e cuidados a adoptar
As mais-valias resultantes da compra e vende de criptomoedas estão isentas do pagamento de IRS, o que, a par da grande valorização destes activos, tem atraído investidores. Mas quem criar empresas e desenvolver actividades relacionadas com blockchain é tributado, esclarece a associação de defesa do consumidor Deco.
Sendo as criptomoedas um mercado em crescimento, várias entidades têm alertado para alguns riscos. Recentemente, o presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários considerou ser importante que haja regulamentação sobre criptoativos em Portugal e alertou para os riscos do investimento.
Na revista Proteste de Janeiro, André Gouveia, analista financeiro, alerta que “as criptomoedas têm sido um terreno favorável para os burlões, até porque dado o estatuto legal ambíguo não há listas de empresas autorizadas que se possam consultar, o que dificulta separar o trigo do joio”. Uma das formas de comprar e vender criptomoedas é através das corretoras, onde é necessário abrir uma conta.
Depois é preciso criar uma carteira digital para guardar e ter acesso às criptomoedas. “Há as chamadas carteira quente e carteira fria. A primeira é a conta bancária na corretora. A segunda pode estar num dispositivo como o telemóvel ou uma pen”, explica Fábio Caetano. Na carteira fria, há que garantir que chave pública e chave privada de acesso estão bem guardadas e permitem recuperação da conta quando se muda de dispositivo.
Caso contrário corre-se o risco de perder, para sempre, acesso às criptomoedas. “Sabe-se que há mais de cinco milhões de bitcoins perdidos”, exemplifica Fábio Caetano. Outra forma de comprar criptomoedas é nos ATM específicos que já existem em vários pontos do País.
Há ainda cartões de débito pré-pagos, financiados com uma carteira bitcoin que pode ser complementado com outras criptomoedas. Está vinculado a um cartão Mastercard ou Visa e permite que as criptomoedas sejam convertidas em moeda fiduciária como euros, dólares ou outras.