Esse tem sido o grande foco da nossa actividade. Criámos o programa Alvaiázere+, que vai ao encontro dessa estratégia, disponibilizando três pilares de apoio: incentivos à criação de emprego, ao espaço físico e ao investimento.
Que tipo de incentivos?
Disponibilizamos, por exemplo, um apoio monetário de dois mil euros a jovens que estejam a iniciar a sua actividade empresarial em Alvaiázere, para despesas relacionadas com comunicações, água ou electricidade. Temos já a funcionar uma incubadora onde cedemos salas para que se possam instalar e estamos a avançar com um pólo dessa unidade, que terá um conjunto mais diversificado de valências, como espaço de co-working, estúdios, salas individuais, espaços para formação e para reuniões. Disponibilizamos ainda um conjunto de serviços, como apoio jurídico e de contabilidade, apoio na elaboração do plano de negócios e formações. A nova incubadora terá também um dormitório, que permitirá a jovens que não tenham ligação a Alvaiázere, mas que aqui queiram iniciar a sua actividade profissional, fazer a sua vida inicial.
E para as empresas que já estão instaladas ou que se queiram fixar no concelho que apoios existem?
Beneficiam, por exemplo, de isenções de taxas urbanísticas e na área do abastecimento de água. Além disso, não aplicamos taxa de derrama.
A ampliação da zona industrial de Tróia vai implicar o abate de dezenas de árvores protegidas como azinheiras e sobreiros. Não havia alternativa?
Não, de todo. Alvaiázere tem três zonas industriais: a da Saganga, completamente esgotada e sem capacidade de expansão; a de Vale da Aveleira, que já tem a sua área de alargamento ocupada, e a de Tróia, a única que pode crescer e cuja ampliação está prevista no PDM, reunindo, dessa forma, condições, para uma candidatura a assofundos comunitários. Se queremos implementar uma dinâmica empresarial no concelho, criando postos de trabalho e atraindo pessoas, não podemos desperdiçar as oportunidades. Temos plena consciência da realidade daquela zona e da importância de preservarmos os valores naturais. Por isso, existem estratégias para compensar estas situações.
Mas as árvores a plantar demorarão décadas a atingir a dimensão das que vão ser cortadas.
[LER_MAIS] Alvaiázere é um dos concelhos do distrito que mais população tem perdido. O que pode o município fazer para tentar estancar esse despovoamento?
Uma das estratégias passa pelo apoio ao empreendedorismo e à criação de emprego. Os jovens quando entram para o ensino superior já não regressam ao concelho. O programa Alvaiázere+ é um dos pilares para tentarmos contrariar essa realidade. Em paralelo, temos um conjunto de apoios muito direccionados para os jovens casais. Estamos a desenvolver um loteamento para ceder, a custos controlados, a quem queira fixar-se no concelho. Disponibilizamos também transporte gratuito a todos os alunos do pré-escolar e do 1.º ciclo e suportamos as despesas com as refeições escolares. Temos também o projecto Alvaiázere Viva, que assegura a ocupação das crianças durante as pausas lectivas.
Falou dos jovens que, quando saem para estudar, já não regressam. Não foi o seu caso. O que a fez voltar?
Saí com 14 anos, para fazer o ensino secundário em Coimbra. Em Alvaiázere não havia a área que queria e que me permitia seguir arquitectura. Foi também em Coimbra que fiz o curso e iniciei a minha actividade profissional. Optei, depois, por criar o meu posto de trabalho. E decidi fazê-lo na minha terra. Também pelos laços afectivos que me prenderam sempre a Alvaiázere. É aqui que está toda a minha família. Infelizmente, a maioria dos meus amigos está fora. Saíram e não voltaram.
Acredita que, depois do drama dos incêndios, que expôs a dura realidade da interioridade, o País olhe de frente e de vez para o problema ou teme que, com o tempo, o tema saia da agenda política?
O tema da interioridade está, definitivamente, na agenda. É triste que só tenhamos acordado para a necessidade de olhar para o Interior depois da tragédia. Hoje, todos, não só os autarcas, mas também o tecido empresarial e associativo e a comunidade em geral, temos a responsabilidade de fazer com que o assunto continue presente e de mobilizar o País para a adopção de políticas e de estratégias diferenciadoras para o Interior.
Há anos que se fala nessa necessidade. Muito se propôs, mas pouco se efectivou.
É verdade. E o meu receio é que estejamos a caminhar de novo para isso. Honestamente, não sei o porquê desta incapacidade de olharmos para o Interior com a visão necessária. É tempo de agir em favor do Interior, com medidas de discriminação positiva. São necessárias, por exemplo, medidas na área da fiscalidade. Se queremos, de facto, que as empresas venham para estes territórios, temos de criar uma fiscalidade mais amiga e isso não cabe aos municípios. As autarquias destas regiões estão a fazer tudo o que está ao seu alcance. Não falo só de Alvaiázere, mas de muitos concelhos que têm já um conjunto de medidas que precisam de ser complementadas com outras da responsabilidade da Administração Central.
Em questão de acessibilidades o que falta a Alvaiázere?
A ligação a Leiria é a maior necessidade. Com a A13, ganhámos uma ligação totalmente diferente a cidades como Coimbra e Tomar.
Mesmo com portagens.
A isenção de portagens na A13 é uma reivindicação que continua em cima da mesa. Acreditámos que ia ser atendida no ano passado, quando foi aplicada a isenção em algumas vias, mas a medida deixou de fora a A13, que percorre parte do Interior do País e não tem alternativa digna desse nome. É uma espinha atravessada neste território. Mesmo assim, é melhor ter a A13 a pagar do que não ter esta ligação directa a cidades como Coimbra ou Tomar, que é o que nos falta em relação a Leiria. As alternativas que existem são muito pouco directas. Demoramos uma hora a chegar a Leiria, enquanto a Coimbra demoramos 25 minutos, meia hora no máximo. E as sinergias com Leiria são, cada vez, maiores.
O município procedeu recentemente ao pagamento antecipado do empréstimo do PAEL (Programa de Apoio à Economia Local). O que motivou esta decisão?
Tendo em conta esses constrangimentos, o recurso ao PAEL foi um erro ou não havia alternativa?
Alvaiázere integra a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL). Este organismo já actua como verdadeira comunidade ou ainda há a tendência de cada município 'puxar a brasa à sua sardinha'?
Sou suspeita porque sempre vi a entrada de Alvaiázere na CIMRL como algo bastante positivo para o concelho. Já havíamos integrado a AMLEI [Área Metropolitana de Leiria], com inúmeros ganhos para o município. As sinergias positivas que saem desta comunidade são uma mais-valia para territórios como o nosso. Temos um conjunto de projectos que efectivamente se direccionam para a região num todo e que permitem a concelhos como Alvaiázere ter uma visibilidade e uma exposição que de outra forma não teriam. A comunidade funciona, de facto, como um todo.
Como gostava de ver Alvaiázere daqui a 20 ou 30 anos?
Com dinâmica empresarial e, acima de tudo, com jovens. A nível de infra-estruturas e equipamentos estamos servidos. Temos excelentes equipamentos na área desportiva, boas escolas e actividade cultural, por acção quer do município quer das associações. O que nos falta são jovens e empresas, para podermos inverter este esvaziamento populacional e para que Alvaiázere ganhe outra dinâmica.
Autarca com saudades da arquitectura
aiu de Alvaiázere com 14 anos para fazer os estudos secundários e cumprir o sonho de ser arquitecta. Isto porque, no concelho “não havia a área que queria” e que lhe permitia seguir esse curso. Os primeiros tempos em Coimbra não foram fáceis.
“Sentia-me uma outsider. Aqui, em Alvaiázere, havia uma proximidade grande com os professores. Lá, até existiam dois bares: o dos professores e o dos alunos”, recorda Célia Marques, que anos mais tarde voltaria a Alvaiázere para abrir o seu próprio atelier.
Era aí que trabalhava quando, há nove anos, Paulo Tito Morgado a desafiou a integrar o executivo, acenando-lhe com a possibilidade de apoiar o processo de revisão do PDM.
“Era aliciante poder intervir num instrumento com tanta importância no desenvolvimento de Alvaiázere.” Em 2014, Tito Morgado renunciou ao cargo de presidente da Câmara. Célia Marques assumiu a função e, em Outubro último, venceu as eleições pelo PSD. “Contribuir para o desenvolvimento da minha terra é excepcional. Mas sinto falta da arquitectura”, confessa a autarca, mãe de uma menina de cinco anos, a quem dedica o pouco tempo que lhe sobra da vida autárquica.