Escolheu para lema da sua candidatura Os militantes e o PS em primeiro lugar. Porquê?
Porque quem está em primeiro lugar são os militantes e não o candidato. Nos últimos 20 anos, no PS de Leiria aconteceu, precisamente, o contrário. Em primeiro plano estiveram sempre os interesses dos dirigentes. Estou neste projecto por ideologia. Sou verdadeiramente socialista e gostaria que esta ideologia, que entendo como progressista, aumente a sua influência no distrito. E isso só se consegue trazendo massa crítica para o partido. Quero renovar ou, quase diria, refundar o PS no distrito.
Se ganhar, quais serão as prioridades?
Reestruturar e reorganizar o partido. Há problemas gravíssimos de falta de financiamento nas concelhias. Há militantes a pagar electricidade do seu bolso. Uma concelhia quer instalar- -se na sua sede, mas, como o PS tem dívidas à EDP, não lhe ligam a luz. Terei de começar por estes problemas, de certa forma comezinhos, que fazem a vida difícil às várias secções.
Foi abordado por António Sales para integrar a sua candidatura. Por que é que recusou?
Porque sou contra as falsas unidades. Ideologicamente não tenho nada a ver com o Dr. Sales. Tenho uma preparação ideológica completamente diferente, mais à esquerda e mais profunda. Ele abandonou quase todas as concelhias nas últimas autárquicas e limita-se a cavalgar a onda de sucesso do PS a nível nacional. Nas últimas autárquicas, o PS teve no distrito o quarto pior resultado a nível nacional e nas legislativas foi mesmo o pior do País.
Ao contrário de si, João Paulo Pedrosa desistiu de uma candidatura própria para a integrar a lista do actual presidente. Como vê o acordo entre os dois?
A intenção inicial de João Paulo Pedrosa, que anteriormente esteve com António Sales, de avançar com uma candidatura significa que o presidente da federação não conseguiu consolidar a sua base de apoio. Por outro lado, essa base precisa de poder. João Paulo Pedrosa vê, em caso de vitória dessa candidatura, hipóteses de continuar a ter poder. Há ainda um terceiro interveniente: José Miguel Medeiros, que também integra a lista. Os três lideraram a federação nos últimos 20 anos. Com os mesmos ingredientes e com a mesma receita, não podemos esperar resultados diferentes. Se ganhar a minha candidatura, teremos uma renovação completa do partido.
O que distingue a sua candidatura da adversária?
[LER_MAIS] Desde logo o facto de eu não querer nada da política. Quero apenas dirigir o partido a nível distrital, para o reforçar. Estou-me nas tintas para as prebendas do poder. O que me motiva é a questão cívica. Por uma questão de decência, tinha de dizer aos militantes do PS que 20 anos da mesma receita já chegam. Não me acomodo ao poder nem me vergo aos ditames do poder. Sou muito diferente do Dr. Sales porque penso pela minha cabeça e sou capaz de, nos momentos próprios, criticar o partido e as suas decisões e de levar a minha voz, que será a voz dos militantes, a Lisboa. Seria incapaz de fazer uma lista de falsa unidade. É a pior coisa que pode acontecer. Se queremos avançar, não vamos dizer que estamos todos de acordo quando não estamos. Recusei integrar a lista dele porque não concordo com a forma dele de fazer política. Serei muito mais próximo dos militantes e das concelhias.
Como pensa estabelecer essa proximidade?
Tenciono realizar duas convenções anuais para ouvir os militantes. O poder não se pode fechar-se sobre si mesmo, a auto-elogiar-se num ciclo restrito. Criarei um gabinete de apoio ao autarca. Não faz sentido pedir às pessoas para se candidatarem e, a partir do momento em que perdem ou ganham, não querermos saber mais delas. Considero também fundamental trazer mais e melhores militantes para o PS. Precisamos urgentemente de quadros no Partido Socialista.
Não teme ficar com o rótulo de divisionista?
Acha que no PS do distrito são todos muito amigos? É uma falsa unidade. A unidade só existe enquanto não chega a hora de fazer as lista. Nessas alturas, parecem gatos dentro de um saco. Não me vou prestar a esse papel.
O actual presidente da federação acusa-o de avançar com a candidatura por questões de “agenda pessoal". Como responde a esta acusação?
Não quero ser presidente da Câmara nem director do hospital. Se tivesse uma agenda pessoal, já tinha avançado há muito. Não cheguei ao PS há meia dúzia de anos. Estou nisto apenas por uma questão de decência, para dizer que esta gente que, nos últimos 20 anos, fez o PS perder mais de dois terços dos militantes não merece a confiança dos militantes.
Diria não à possibilidade de ser deputado?
Não direi que não concorrerei, mas, se fosse a minha motivação, já teria avançado há muito. Se me pergunta por que é que há 30 anos não concorri e agora sim, dir-lhe-ei porque há 30 anos António Sales não era presidente da federação e há 30 anos o presidente da federação não me merecia uma reprovação tão viva como agora. Como considero que o partido está mal dirigido, entendi, por uma questão ética e de afirmação política do PS no distrito, por-me à disposição do partido neste momento. Alguém tem de dizer que isto está podre.