Há 15 anos, entrava em funcionamento o primeiro parque eólico na região, o da Senhora de Vitória, localizado na costa da Nazaré, com capacidade para produzir energia suficiente para abastecer cerca de 19 mil pessoas. Uma década e meia volvida, existem 14 parques no distrito que, em 2017, foram responsáveis pela produção de 705 GWh (gigawatts- hora), de acordo com dados fornecidos pela Secretaria de Estado da Energia ao JORNAL DE LEIRIA.
Um valor suficiente para abastecer cerca de 552 mil pessoas – considerando um consumo médio por habitante de 1227 KWh (quilowatt-hora –, ou seja, mais do que a totalidade da população do distrito, que ronda os 458 mil residentes.
Segundo cálculos da APREN Associação Portuguesa de Energias Renováveis, a produção eólica no distrito, registada em 2017 (últimos dados disponíveis), corresponde a 2.960 horas de energia, tendo em conta a potência instalada na região.
Olhando para os dados do total de energia consumida no distrito, disponíveis no portal Pordata, é também possível concluir que os 705 GWh produzidos equivalem a 28% dos consumos, incluindo não só os domésticos mas também os industriais e outros.
A nível nacional, os números indicam que, em 2017, a eólica foi responsável por 21% do total de energia produzida em Portugal, sendo, nesse ano, a fonte renovável com maior fatia de energia produzida. No ano seguinte, a hídrica registou uma produção maior (ver gráficos).
[LER_MAIS] “Ter 28% de energia produzida a partir das eólicas é já bastante relevante”, diz Domingos Patacho, presidente do Núcleo Regional do Ribatejo e Estremadura da Quercus, reconhecendo o “grande impacto” que este sector teve no incremento da energia renovável, quer na região quer no País, “também muito graças aos incentivos dados” à instalação de aerogeradores, que fizeram desta “uma actividade mais interessante, do ponto de vista económico, do que à partida seria”.
Paulo Lucas, dirigente da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, lamenta, contudo, que tenha havido “pouca avaliação estratégica a nível ambiental do que se queria fazer”. O que, diz, levou por exemplo, à construção de parques “a mais” em áreas protegidas.
“A bem da energia renovável, o Estado permitiu que se instalassem aerogeradores em locais onde devia haver mais cautelas do ponto de vista ambiental”, acrescenta Domingos Patacho, dando como exemplo o parque eólico de Alvaiázere, situado em área classificada como Rede Ecológica Nacional (REN) e Rede Natura, com habitats protegidos por directivas europeias.
País quer ter 47% de energia renovável em 2030
Apesar das críticas, os dois ambientalistas não têm dúvidas em considerem “inegáveis” e “inquestionáveis” os benefícios do incremento que a eólica teve na última década e meia e que, em grande parte, permitiu que Portugal esteja hoje próximo da meta definida para 2020 de ter 31% de energia produzida a partir de fontes renováveis.
Os últimos dados divulgados pelo Eurostat (organismo de estatísticas da União Europeia), referentes a 2016, revelam que, nesse ano, 54% da energia consumida em Portugal teve origem renovável, ficando a 2,9 pontos percentuais de cumprir aquela meta.
Para 2030, a União Europeia traçou, no ano passado, a obrigatoriedade de os Estados-Membros terem 32% de energia obtida a partir de fontes renováveis, mas Portugal foi mais longe e no Plano Nacional de Energia e Clima 2030 definiu como objectivo chegar aos 47%.
Recém-eleito presidente da APREN, Pedro Amaral Jorge, acredita que, embora “ambiciosa”, a meta é concretizável. Há, no entanto, várias questões que, no seu entender, podem dificultar essa concretização, como a “instabilidade regulatória e fiscal, a não simplificação dos processos de licenciamento e do licenciamento ambiental, em particular aplicável às centrais de produção de electricidade renovável, quer seja eólica, hídrica ou solar, e o acesso ao financiamento e investimento necessários à construção de toda a potência definida no Plano Nacional de Energia e Clima 2030”.
Por seu lado, Paulo Lucas defende que é necessária uma aposta mais forte no fotovoltaico, nomeadamente em unidades de pequena escala e na produção descentralizada. “Há um potencial enorme. Portugal tem muitas horas de sol e cerca de 500 mil hectares de áreas artificializadas – zonas urbanas e industriais -, que já estão degradadas pela acção humana. Por que não aproveitá-las para a produção energética?”, questiona o ambientalista.
No seu entender, o País deveria apostar “a sério” numa política de “isenção e benefícios fiscais, permitindo aos contribuintes investir no fotovoltaico, com garantia de um retorno mais rápido do investimento”. O dirigente da Zero defende ainda uma alteração à Lei que permita aos condomínios vender energia.
“Há uma promessa do secretário de Estado da Energia nesse sentido. Se assim for, poderá haver um incremento significativo do fotovoltaico”, refere, apontando também a importância de se apostar no micro-eólico e na instalação de aereogeradores também em matas nacionais, algumas delas, como a de Leiria, localizadas em áreas “com potencial eólico”. Seria, diz, também uma forma de financiar o investimento que essas matas necessitam.