Após já ter conquistado medalhas de prata e de bronze em campeonatos do Mundo e da Europa, ao longo dos últimos anos, o leiriense Eric Domingues alcançou finalmente o ouro no Campeonato do Mundo de Veteranos, no escalão M3, na categoria -66kg. A prova realizou-se em Abu Dhabi, no Dubai, no passado dia 1 de Novembro, onde o atleta e treinador do Grupo Desportivo Santo Amaro contou com uma ‘estrelinha’ especial: o pai, falecido em Abril deste ano.
“É a realização de um sonho. Esta medalha é dedicada ao meu pai, que de algum modo sinto que esteve sempre comigo, a ajudar-me”, afirma o judoca de 43 anos, que em 2022, na mesma competição, tinha sido eliminado logo no primeiro combate. “Perder o meu pai acabou por me dar uma motivação extra para este ano chegar ao mundial e mostrar o meu valor. Foram seis meses de preparação intensa, com treinos bi-diários, onde acordava às seis da manhã para treinar, depois ia trabalhar e dar aulas, e à noite voltava a treinar.”
O leiriense reconhece que “por se tratar de veteranos, pode-se pensar que a exigência é mais baixa, mas não é verdade”. “Encontramos atletas que fizeram carreira profissional no judo e que chegaram a participar em Jogos Olímpicos, o que aumenta o nível de dificuldade”, refere o atleta, salientando que participaram no Campeonato do Mundo de Veteranos mais de 1.000 judocas, oriundos de 65 países. Para Eric Domingues, a medalha de ouro é igualmente “de todas as entidades que apoiaram esta participação”, bem como “de todos os leirienses”.
A conquista do Mundial acontece depois de, já este ano, se ter sagrado campeão nacional de veteranos pela oitava vez consecutiva.
O próximo grande objectivo do judoca é sagrar-se campeão europeu em Junho de 2024. “Este ano não consegui preparar-me para participar, por estar a acompanhar o meu pai. Mas agora, uma vez alcançado o ouro no Campeonato do Mundo, a prioridade é conquistá-lo também no Europeu”, afirma.
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Eric Domingues iniciou a prática de judo aos 12 anos, em França, país onde residia, e onde chegou a estar em cima da mesa a possibilidade de representar a selecção francesa. Aos 15 anos, mudou-se com os pais para a terra natal da família, na Ortigosa, e com ele trouxe a vontade de continuar a dar cartas no judo e de “estar sempre ao nível dos melhores”. De tal forma que chegou a integrar a selecção nacional de cadetes.
Mais tarde, quando se formou em Educação Física e Desporto e iniciou a sua carreira profissional como docente, fez um interregno na prática da modalidade, que veio a retomar alguns anos depois, na Marinha Grande, com o Mestre António Saraiva.
“Aprendi bastante com ele e aos poucos fui regressando de forma mais séria à modalidade, como atleta”, diz Eric Domingues, que começou a trabalhar no Grupo Desportivo Santo Amaro em 2012. “O nosso grande objectivo com a criação da secção de judo no clube foi sempre desenvolver a modalidade em Leiria.”
Sobre a evolução da modalidade no concelho leiriense, explica que “antes da pandemia, estava a crescer muito”. “Depois acabámos por perder alguns atletas, até porque se trata de uma modalidade com muito contacto físico. Ao longo do último ano e durante este ano, temos registado um novo crescimento”, refere o treinador e atleta, revelando que “os pais entendem cada vez mais como é o judo e reconhecem os seus valores, como a cortesia, ética, respeito, amizade, disciplina, entre outros”.
Estão inscritos no Grupo Desportivo Santo Amaro mais de uma centena de judocas, a partir dos 4 anos e até à idade adulta, sendo o objectivo continuar a divulgar a modalidade, sobretudo junto dos mais novos, através dos pólos nas escolas da Ortigosa, Monte Redondo e Marrazes.
“Temos consciência que não estamos na malha urbana de Leiria, mas temos procurado levar o judo a várias crianças, através do nosso projecto nas escolas.”
Defendendo que “Leiria tem muito talento”, Eric Domingues destaca o jovem atleta de alto rendimento David Silva, que por diversas vezes tem sido convocado para a selecção nacional de cadetes. “O objectivo dele é fazer carreira no judo e está muito focado nisso. Nós naturalmente que o apoiamos a 100% e, inclusive, temos como missão que consiga ir aos Jogos Olímpicos de 2028.”
Ainda que defenda que “o talento pode ser uma das chaves para o sucesso”, o mais importante é “o trabalho”. “Um atleta que tenha talento, mas não trabalhe, não consegue vingar. Já um que tenha menos talento, mas que trabalhe muito, tem tudo ao alcance para ter sucesso. No caso do David, sem dúvida que é um judoca com muito talento e que trabalha bastante em prol dos melhores resultados na modalidade”, revela Eric Domingues, salientando, no entanto, “a importância de não descurar a vida escolar e social”.