Têm a missão de assegurar uma articulação eficaz entre os alunos, professores, encarregados de educação, clubes, treinadores e federações desportivas, para permitir aos alunos-atletas conciliar, com sucesso, a actividade escolar com a prática desportiva. Falamos das escolas UAARE – Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola, que actuam em três domínios: gestão escolar, gestão desportiva e saúde e bem-estar.
Iniciadas em 2016/2017 como um projecto-piloto, chegaram ao distrito de Leiria em 2018/2019. Primeiro no Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro (AERBP), nas Caldas da Rainha, e no ano seguinte em Leiria, na Escola Secundária Afonso Lopes Vieira (ESALV).
O programa destina-se a alunos com estatuto de alto rendimento, alunos integrados em selecções nacionais ou alunos que tenham um alto potencial desportivo, sendo que em ambas as instituições do distrito são apoiados alunos do 7.º ao 12.º anos.
Só na ESALV estão integrados mais de 30 alunos-atletas, a maioria do Conservatório Internacional de Ballet e Dança Annarella Sanchez. Mas não só. Ténis, natação e andebol são outras das modalidades praticadas pelos alunos.
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“No último ano lectivo tivemos 36 alunos e este ano temos já 35, podendo surgir ainda mais”, refere Pedro Jorge, professor acompanhante da UAARE da ESALV, acrescentando que, dos 36 alunos, 25 estavam deslocalizados da sua residência e 18 eram estrangeiros, originários de países como Bélgica, Brasil, Japão ou Roménia.
No que toca ao sucesso escolar dos alunos-atletas, o professor revela que, no ano passado, a classificação média no 3.º ciclo foi de 4,77 e no ensino secundário de 16,70, tendo-se registado apenas uma classificação negativa.
“Todos os alunos transitaram de ano com resultados muito bons. Somos, inclusive, a escola com melhores resultados a nível nacional”, salienta.
Mas o que prevêem, afinal, as UAARE? Primeiramente, uma gestão escolar, centralizada no professor acompanhante, em estreita colaboração com o responsável nacional do projecto e o director do estabelecimento de ensino, onde existe uma Sala de Estudo Aprender +, que mobiliza planos pedagógicos individuais, com recurso a trabalho colaborativo com os professores curriculares e os conselhos de turma, havendo ainda um especialista que assume o apoio psicológico e psicopedagógico a cada aluno.
Já ao nível da gestão desportiva, é assegurada a devida articulação entre a escola, as federações desportivas e os treinadores, com vista à conciliação do treino, da competição e do estágio com a aprendizagem escolar.
“Procuramos estabelecer, para cada aluno, um horário escolar compatível com os treinos. Além disso, quando um aluno falta devido a compromissos desportivos, tem as faltas justificadas e pode remarcar testes e outros instrumentos de avaliação”, explica Pedro Jorge.
Também nas Caldas da Rainha são vários os casos de sucesso. Alexandra Sampaio, professora acompanhante, destaca o “enorme trabalho de equipa, que permite aos alunos terem sucesso desportivo, sem descurar a escola”.
Na UAARE do AERBP estiveram integrados, no último ano lectivo, 29 alunos do ensino regular e profissional, esperando-se em 2023/2024 o acompanhamento de 22 alunos.
“No nosso agrupamento temos uma taxa de sucesso escolar de 96,18%. Neste novo ano lectivo teremos alunos de 10 modalidades, designadamente badminton, kempo, dança desportiva, futebol feminino, ténis, andebol, voleibol, entre outras, sendo a novidade o jiu-jitsu.”
Segundo Alexandra Sampaio, estão actualmente envolvidas 14 turmas, onde “os colegas são os maiores fãs dos alunos-atletas”. “É um orgulho acompanharmos o percurso desportivo destes alunos. Fazemos uma divulgação permanente dos resultados por eles alcançados e vibramos muito com o sucesso deles.”
Alunos valorizam o apoio dos docentes
Tem 16 anos, vai iniciar o 11.º ano e o seu grande objectivo é fazer carreira profissional no ténis. Um sonho que quer atingir sem deixar a escola para trás. “Acabo por perder muitas aulas e se não fosse a UAARE, seria muito difícil conciliar”, reconhece Matilde Parreira, aluna da ESALV, que teve no ano passado o primeiro contacto com o programa.
“Até ao 9.º ano foi fácil conciliar. No ensino secundário a exigência é maior, pelo que este acompanhamento é muito importante. Os meus pais acabam também por ficar aliviados, porque sabem que na escola estão sempre muito atentos”, refere a aluna, que após o ensino secundário pretende igualmente tirar um curso para “ter um plano B”.
Também natural de Leiria, foi nas Caldas da Rainha que a andebolista Rita Campos, hoje com 21 anos, concluiu o ensino secundário. A mudança de matrícula para o AERBP, quando estava já no 12.º ano, aconteceu após receber uma proposta para jogar na Noruega.
“Frequentava um curso profissional em turismo e percebi que, se queria agarrar a oportunidade e terminar o secundário, tinha de arranjar uma solução. Foi então que encontrei o programa UAARE e mudei a matrícula para as Caldas, onde também havia o curso”, explica Rita Campos, que durante cerca de seis meses esteve em ensino à distância a partir da Noruega.
“Os professores foram exemplares. Se não fosse a UAARE, teria sido muito difícil terminar o secundário”, admite a atleta, que hoje representa o SL Benfica, estando a frequentar a licenciatura em Gestão Turística em Lisboa.
“Tenho procurado conciliar. Se não fizer em três anos, faço em quatro. O importante é concluir o curso”, refere a leiriense, que no futuro gostaria de jogar no estrangeiro.