Provavelmente, a primeira orquestra de samples composta por músicos em cadeiras de rodas do mundo. É assim que a editora Omnichord apresenta os Ligados às Máquinas, ou seja, Andreia Matos, Dora Martins, Fátima Pinho, Hélia Maia, Jorge Arromba, José Morgado, Luís Capela, Mariana Brás, Pedro Falcão e Sérgio Felício, com o musicoterapeuta Paulo Jacob.
Amor Dimensional, o disco de estreia do projecto nascido há uma década na Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra, é lançado em todas as plataformas digitais na próxima sexta-feira, 6 de Dezembro, através da Omnichord Records, de Leiria.
O álbum, segundo a editora, é “uma fusão de estilos musicais, do hip-hop ao fado, do rock ao techno, do blues à world music e da música erudita à música concreta”, que se traduz “numa linguagem única”, a partir da colaboração com nomes como Ana Deus, Bruno Pernadas, Orquestra e Coro da Gulbenkian, Rita Redshoes, Salvador Sobral, Samuel Úria, Selma Uamusse ou os leirienses First Breath After Coma e Surma.
“Uma espécie de melting pot musical, onde cada um participa activamente no processo criativo do colectivo, partilhando a sua identidade musical e cruzando-a com a dos outros”, lê-se na nota de divulgação.
“Aliando a paixão musical que une o colectivo à tecnologia, com muita cabelagem e controladores personalizados, é possível cada músico “disparar” um ou mais samples, culminando numa composição musical colectiva e inédita”, detalha a Omnichord.
Para os Ligados às Máquinas, não é apenas música, é transformação, salienta o comunicado enviado à imprensa: “O grupo representa para mim o “esquecer” os problemas e dedicar-me ao que mais gosto de fazer: música”. Outro membro acrescenta: “A oportunidade de tocar, de participar”.
Amor Dimensional “celebra a música como espaço de inclusão e inovação” e explora temas como “conexão, saudade e significado no mundo contemporâneo”, realça o texto que anuncia o lançamento do disco. “É um testemunho da criatividade e resiliência de uma banda que transforma barreiras em arte”.
São, ao todo, nove temas originais, “que desenham um dia na vida de cada um: do amanhecer ao acordar, da procrastinação à tensão, da obrigatoriedade à liberdade de escolha limitada, da melancolia confortável à refeição aconchegante até ao merecido descanso (enriquecido pela possibilidade de sonhar)”.
Amor Dimensional é o resultado de uma década de trabalho.
Com o musicoterapeuta Paulo Jacob, o processo criativo do grupo destaca-se pelo uso, adaptação e criação de soluções de hardware e software que permitem aos integrantes – músicos com alterações neuromotoras – ter controlo e autonomia para disparar samples em tempo real em dispositivos adaptados.
Nos primeiros anos, os elementos dos Ligados Às Máquinas foram convidados a partilhar, nas sessões de trabalho, as músicas e os sons mais importantes e significativos na sua vida. Mas, em 2023, em parceria com a Omnichord e no contexto de uma residência artística para o festival Nascentes, onde actuaram, nas Fontes, concelho de Leiria, o projecto iniciou um processo de colaboração directa com músicos e compositores, que cederam excertos musicais inéditos, da sua voz ou dos seus instrumentos, que permitiram aos Ligados às Máquinas a criação de um arquivo sonoro que potenciaria novas composições.
Entre os artistas que aceitaram o convite estão Ana Deus, Bruno Pernadas, Cabrita, Carincur, Catarina Peixinho, Coro Ninfas do Lis, Dada Garbeck, Filipe Rocha, First Breath After Coma, Gala Drop, Gui Garrido, Joana Gama, Joana Guerra, João Doce, João Maneta, João Pedro Fonseca, José Valente, Lavoisier, Mano a Mano, Moullinex, Nuno Rancho, Orquestra e Coro da Gulbenkian, Pedro Marques, Retimbrar, Ricardo Martins, Rita Braga, Rita Redshoes, Salvador Sobral, Samuel Martins Coelho, Samuel Úria, Selma Uamusse, Senhor Vulcão, Surma e Vasco Silva.
Os Ligados às Máquinas estrearam-se em palco em 2014, a convite do Teatro Municipal da Guarda, e, desde então, têm vindo a apresentar-se ao vivo todos os anos.