Segurança, sol, simpatia, acolhimento, boa gastronomia e óptimo vinho fazem as delícias dos estudantes internacionais que frequentam licenciaturas, mestrados ou cursos de curta duração no Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria).
São 1200 alunos, de 61 nacionalidades. O pódio é ocupado pelo Brasil, Equador e China. Mas há estudantes que viajam de locais como a Índia, a Jordânia ou o Uzbequistão. Em comum têm a vontade de aprender.
Até chegarem desconheciam Leiria, mas rapidamente ficam rendidos aos encantos da cidade, geralmente mais pequena que os locais onde moram. Consideram os portugueses afáveis, sempre prontos a ajudar e adoram o sol e a segurança que sentem ao andar na rua, mesmo fora de horas. Surpreendem-se com a qualidade e disponibilidade dos professores e garantem que o IPLeiria é um local para recomendar.
Da Índia para Leiria para ser engenheira
Vani Annappa, 25 anos, natural da Índia, escolheu o IPLeiria pela licenciatura em Engenharia Civil. “As opções do curso eram melhores do que vi em outras universidades.” Há dois anos chegou a Leiria. Tudo é diferente de Bangalore, a sua cidade natal, que tem quase tantos habitantes como Portugal, “tem um clima ameno e onde não há oceano”.
“Leiria é muito pequena, mas muito mais seguro. Na Índia, os meus pais não me deixam sair depois das 20 horas. Aqui vou a festas até às 2 da manhã.” Hindu, para si a vaca é considerada um animal sagrado, pelo que é carne que não come, mas aceita que outros o façam. Constata grandes diferenças na alimentação, que acusa de ter pouco sal. “Na minha terra a comida tem muito sal e é picante. Aqui como mais vegetais.” Vani revela que não tem o hábito de fazer refeições fora de casa. “A minha mãe compra tudo fresco e prepara tudo em casa.”
Aos poucos vai-se habituando aos costumes ocidentais. E o ensino é uma das suas partes preferidas. “Os professores são amigos e ajudam em tudo. Se não percebemos a matéria, tentam explicar melhor. Na Índia temos medo do professor. Aqui não se usa muito os livros, mas mais apresentações e recurso a websites. Na Índia há mais teoria e muito pouca prática.”
Depois de várias horas de voo, quando aterrou em Portugal, Vani estava assustada. “Quando vi que as pessoas eram tão boas, simpáticas, sempre disponíveis a ajudar, fiquei mais descansada.”
Prefere não falar da família que está longe, porque rapidamente as lágrimas tentam sair. Diz que não com a mão à conversa sobre as saudades e volta a falar sobre os professores: “falam muito bem inglês e conseguem ensinar nesta língua”. Talvez por isso, apesar de estar há dois anos em Leiria não fala português. “Já me inscrevi no Curso de Língua Portuguesa.” Regressar à Índia? Só daqui a uns dez anos, depois de trabalhar e ganhar experiência, garante.
Professor para mudar educação no Brasil
“Desde pequeno que quero ser professor. Quero mudar a Educação do meu país, que precisa de melhorar muito.” Juracy Marques, 24 anos, está a fazer o mestrado em Engenharia da Energia e do Ambiente.
Diz que é uma pessoa “muito solta” e que já viajou por mais de 20 países. Com 18 anos rumou à Alemanha para fazer a licenciatura. Agora, uma publicação no facebook fê-lo cruzar com o IPLeiria. A informação que recolheu fê-lo inscrever-se de imediato. O objectivo é obter o máximo de qualificações, onde se inclui um doutoramento. “Depois vou voltar para o Brasil. Cada turma tem à volta de 40 alunos, se conseguir mudar 10% em cada turma já vou ficar contente.”
Natural de Salvador da Bahia, Juracy agradece aos pais a oportunidade que lhe deram para estudar. “Não tenho bolsa. Eles sempre foram o meu suporte para estudar, apesar de só terem a terceira classe. Fiz umas economias e agora procuro trabalho”, revela.
Também o brasileiro destaca a segurança e a simpatia das pessoas como vantagens de Leiria. “Aqui ando à noite na rua sem problema. Se fosse em Salvador já tinha sido assaltado 10 vezes. As pessoas são super simpáticas, parece que se colocam no nosso lugar e ajudam. Quando pergunto onde fica algum lugar, elas levam- me até lá. Sinto-me em casa.”
Habituado às duas estações da Bahia: “verão com chuva e verão sem chuva”, Juracy ainda se está a habituar a outras temperaturas. Considera que os leirienses “bem chiques” e “bonitos”, homens e mulheres. “Procuram estar bem vestidos.”
Está “amando as aulas”, que considera “bem diferentes” do Brasil e da Alemanha. “Aqui há teoria e depois a prática para aplicar o que aprendemos. Os preofessores deixam-nos mais confortáveis para pedir ajuda”. Leiria é “uma cidade pequena e os gastos são menores”. Quanto à gastronomia, “come-se muita batata” e os vinhos… “são óptimos”.
Oportunidade de mostrar quem é
[LER_MAIS] Yanshan Luo, 23 anos, tem o nome português Filipa. Está no segundo ano de Língua Portuguesa Aplicada e já fala um português perfeitamente compreensível, o que a faz corar quando inicia toda a conversa na língua de Camões. A escola chinesa onde anda tem um protocolo com o IPLeiria, que permite aos estudantes virem para Portugal aprender Português.
O choque cultural esbateu-se rapidamente. “Não conhecia o País e vi que os portugueses são simpáticos e Leiria é uma cidade muito tranquila. Tudo é diferente: a vida, o ambiente, a cultura, a comida, mas gostava de viver aqui.” O método de ensino também é distinto “Aqui há mais oportunidade para mostrar quem somos, para sermos nós próprios. Aprender português é muito difícil, pois tem muitos verbos e tempos verbais. Também tenho amigos portugueses que estudam chinês e ensino-lhes”, afirma.
Filipa ensina ainda chinês a crianças portuguesas. Quando chegou imaginava uma vida mais regrada de dedicação total aos estudos. “Afinal, há vida além da escola”, constata, revelando que tem vários amigos portugueses e que já faz refeições portuguesas.
“Se encontrar um curso que goste vou ficar por cá. Gosto do comércio. É uma área em que existem relações entre os dois países. Quero dar a conhecer a cultura, a gastronomia e a tradição chinesas.” Estando em Portugal vai aproveitar para conhecer alguns países da Europa para contactar com outras culturas.
Beijinho na cara em vez de aperto de mão
Shengji (Cristóvão) Wang, 20 anos, anda na mesma escola que Filipa Luo, mas entrou este ano no IPLeiria. Rapidamente apercebeu-se da diferença do cumprimento entre pessoas. “Nós damos um aperto de mão e aqui as pessoas cumprimentam-se com um beijo na cara.”
Já aderiu à forma portuguesa. “Gosto de Leiria. É uma cidade pequena que me permite andar a pé e conhecê-la.” Mas o que faz brilhar os olhos rasgados de Cristóvão são as guluseimas. “Os doces portugueses são muito bons. As Brisas do Lis são maravilhosas. Falaram-me desse doce e quis logo experimentar.”
As festas também agradam ao chinês. “Vou a algumas e tenho pena de não ter ido a uma no Porto.” Admite ficar em Leiria, mas vai depender do seu futuro nos estudos. “ Quero a área do turismo ou da cozinha, portuguesa ou chinesa.” Para já, está a gostar do curso de Língua Portuguesa Aplicada e dos professores.
Pessoas mais abertas, mas faltam pickles
Alexandr Losanok, 25 anos, ingressou no IPLeiria através do programa Erasmus Mundo. “Tinha duas opções: República Checa ou Portugal. Gosto do clima mais quente e por isso decidir pelo mestrado em Negócios Internacionais aqui.”
Natural de uma pequena cidade da Bielorrússia, considera que Leiria é “mais clara, tem mais cor e não é só porque tem mais sol, mas porque tem um urbanismo diferente.” “Há muitos lugares para nos divertirmos e as pessoas são mais simpáticas, abertas e muito mais calmas. Talvez porque o clima é mais frio, na Bielorrúsia as pessoas são mais fechadas.”
Considera que o ensino do IPLeria é melhor, “até porque é bilingue”. “Gosto muito dos professores, têm um nível de inglês muito bom e explicam muito bem. Constroem relações mais informais, dando mais confiança aos alunos, o que é bom para o processo de estudo”, acrescenta o jovem, que está a trabalhar como assistente comercial numa empresa em Leiria.
Alexandr constata que em Leiria “há mais marisco e peixe”, devido à proximidade do mar. Apesar da comida ser “saborosa”, o estudante sente falta dos pickles. “Lá há muita variedade e acompanham com quase todas as comidas. Tenho muitas saudades dos nossos pickles.”
Não tem planos para voltar à Bielorrússia. “Todos os locais têm vantagens e desvantagens, mas na Bielorrússia há mais desvantagens, sobretudo a nível económico. Na Europa tenho mais oportunidades para realizar o meu potencial.”
Com amigos de várias nacionalidades, já ensinou a confeccionar a verdadeira salada russa, assim como algumas asneiras na sua língua nativa. “Sempre me receberam bem. Quando preciso de alguma coisa as pessoas ajudam-me. Mesmo quando não falam inglês, tentam ajudar com gestos ou pedem a outra pessoa para traduzir. Gosto desta postura.”
Por isso, Alexandr recomendou Leiria a alguns amigos, que se vão mudar em breve para Portugal. “É um país que tem uma História muito rica, um clima muito bom, o mar perto e ao mesmo tempo a vida é mais calma.”
O frio gélido
“O vinho é muito bom e barato. É uma das coisas que mais gosto.” Juanjo Aloán, 18 anos, chegou há cerca de dois meses da capital do Equador, Quito. Estudar em Portugal sempre esteve nos seus objectivos. Os colegas que passaram pelo IPLeiria falaram da sua experiência como sendo “muito fixe”.
Juanjo está no primeiro ano da licenciatura de Comunicação e Media. O ensino é parecido. “Ter uma língua diferente é um novo objectivo para mim. Há dois meses que estou em Leiria e já falo um pouco de português. Os professores são um pouco mais compreensivos, mas não há uma diferença muito marcada. A primeira expressão que aprendi em Português foi ‘muito obrigado’”, revela.
Leiria é “uma cidade limpa, com cultura” e “muito mais segura”. “No Equador só temos duas estações: Verão e Inverno. Estamos no Outono e é muito lindo. Quando ouvi falar do frio de Portugal nunca pensei que fosse tão frio”, diz.
Aponta a gentileza das pessoas como uma das características que mais aprecia nos leirienses. “Logo no primeiro dia que cheguei à escola, os colegas estiveram sempre a perguntar se percebia tudo.” Já a comida, é “muito diferente e é mais saudável, quase não tem sal”. No Equador, “ é tudo muito condimentado”, o que o faz sentir algumas saudades.
Está do outro lado do mundo, sozinho, mas está a gostar da “independência e do novo estilo de vida”. Sobre Portugal, tinha ouvido falar sobre as ondas gigantes da Nazaré, sobre a Nossa Senhora de Fátima, Fernando Pessoa, que lia na escola e… Cristiano Ronaldo.
Praticante de ténis, o desporto ficou de lado, mas quando descobriu o Leiria Run todas as quartas-feiras não falha. “No Equador as pessoas saem à noite até às 2 ou 3 da manhã, aqui as pessoas desfrutam até ao outro dia.”