Se há um ano as empresas de comercialização de veículos automóveis lutavam contra os stocks e um mercado que, em virtude da pandemia da Covid-19, caía a pique, hoje, devido à mesma pandemia, não há carros para entrega imediata.
A culpa é da falta de microchips, semicondutores e de processadores para os sistemas de gestão dos motores, para multimédia, navegação, controlo de climatização, entre uma miríade de outras funções dependentes da electrónica.
“Ao que conseguimos apurar, após o impacto inicial da pandemia, houve uma transferência dos fabricantes de microchips, maioritariamente sediados na Ásia, para outras áreas industriais, devido à quebra de vendas no sector automóvel”, explica Nuno Roldão, vice-presidente da Anecra – Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel e empresário do ramo automóvel, no distrito de Leiria.
Já em Junho, o administrador da MCoutinho, António Coutinho, num encontro com empresários e responsáveis do sector, em Leiria, sobre o tema da mobilidade eléctrica, havia alertado para atrasos de “vários meses”, na entrega dos veículos encomendados.
Segundo os empresários contactados pelo JORNAL DE LEIRIA, o problema é transversal a todas as marcas, modelos, motorizações e segmentos. A falta de componentes é tal que foi adiado o lançamento de alguns modelos.
“O impacto nota-se ao nível das linhas de produção, uma vez que a indústria não consegue aceder aos chips e reduziu a produção”, explica Roldão, dando conta de que embora haja mais procura e menos oferta, os preços dos carros novos não estão a aumentar.
“As margens é que estão a ser esmagadas.”
O vice-presidente da Anecra dá conta de fabricantes que, em Setembro, enviaram para Portugal apenas 10% das viaturas que tinham sido acordadas e de construtores de veículos de marcas de luxo que estão a instalar elevadores de vidros manuais, com a promessa de os trocar, assim que houver elevadores eléctricos disponíveis.
[LER_MAIS]Ao nível dos fabricantes de moldes da região, fonte do sector faz notar que o impacto ainda é diminuto, embora já há algum tempo que se nota uma crise devido à indefinição do futuro do mercado, nomeadamente, ao nível das motorizações, embora, nos últimos tempos, haja cada vez mais certezas sobre o caminho da electrificação.
Após Junho e Julho terem sido marcados por um crescimento assinalável, Agosto voltou a fazer cair os números, mas a tendência em Setembro foi, novamente, de subida, penalizada pelo recrudescer da Covid-19 na Ásia.
Mesmo assim, a questão dos chips não está directamente relacionada com estes movimentos, uma vez que a indústria de moldes e plásticos trabalha com avanço temporal, relativamente às necessidades das marcas.
Para tentar resolver a situação e reduzir a dependência de países como a China ou Taiwan, na Alemanha foi criada, em tempo recorde, uma nova fábrica de componentes electrónicos, porém, até ao final do ano não deverá haver alterações nos atrasos.
“Apenas em 2022 deveremos regressar à normalidade. Até lá, estamos a vender com prazos muito distendidos”, resume Nuno Roldão.
Também no mercado dos usados se está a notar uma redução na oferta, uma vez que não há viaturas novas para alimentar as vendas destes veículos.