Os produtores de vinho estão a ser confrontados com a falta de garrafas, de rótulos e de caixas de cartão, o que está a dificultar o engarrafamento e a colocação dos produtos no mercado.
“Sem garrafas e sem cartão não podemos trabalhar. Vamos conseguindo, com muitas falhas e sem qualquer hipótese de garantia de prazos de entrega”, afirma Pedro Rosado, da Paço das Cortes.
Esta empresa de Leiria obtém 90% do volume de vendas através da exportação e Pedro Rosado explica que além das rupturas “permanentes” no fornecimento de garrafas tem havido “aumentos consecutivos” de mais de 40% nos preços, que a Paço das Cortes não consegue repercutir nos preços que pratica, sofrendo por isso uma “redução abrupta de margens”.
Também nas caixas de cartão e nos rótulos há rupturas no fornecimento e os preços sofreram aumentos superiores a 30%, diz o empresário.
Nas rolhas, nas cápsulas (quer de PVC quer de alumínio) e nas paletes de madeira os aumentos são igualmente “constantes”.
“A maioria dos aumentos iniciou-se ligeiramente em Dezembro e disparou com o início da guerra na Ucrânia”, aponta Pedro Rosado, para quem a situação de aumentos constantes e de ruptura nos fornecimentos, “sem fim à vista”, é “altamente preocupante”.
Para o gestor, as subidas de preços daqueles artigos derivam sobretudo dos aumentos dos combustíveis e da energia. “A guerra agravou grandemente a situação”.
Para a dificuldade de acesso às garrafas, acredita que contribui também o aumento da procura. “Muitas embalagens de produtos alimentares que eram em PET e PVC passaram ser de vidro pela preocupação com o meio ambiente”.
Ao Jornal de Negócios, Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, revela que o problema é generalizado no país e pode pôr em causa o crescimento das exportações do sector.
Na sua opinião, o problema resulta de uma conjugação de efeitos, como o atraso na recuperação da produção de garrafas, rótulos ou caixas depois da redução provocada pela Covid-19, a subida dos preços da energia e a falta de matérias-primas com que se deparam esses fabricantes e a disrupção nas cadeias logísticas, que resultou na falta de contentores e no aumento dos custos do transporte.
A situação, segundo Frederico Falcão, foi também agravada pelo facto de grandes produtores, perante os receios existentes no mercado de que houvesse falhas de fornecimento, terem comprado grandes quantidades de garrafas, “criando um efeito bolha que não pode ser menosprezado”.
“Agora há falta de garrafas no mercado, o que é preocupante”, diz.
“Nas garrafas, nos rótulos e nas caixas é onde as coisas estão mais complicadas”, afirma Frederico Falcão, que revela que “neste momento há produções a parar porque não conseguem fornecer encomendas, já que não conseguem embalar o vinho”.
A Goanvi, em Alcobaça, não chegou a parar, mas teve de ajustar alguns turnos devido à falta de garrafas, conta ao JORNAL DE LEIRIA Luís Vieira, administrador do Grupo Parras.
“Tivemos de aumentar os stocks e de fazer as encomendas com mais antecedência”, diz o gestor, explicando que há muita dificuldade em obter alguns modelos de garrafas.
Por outro lado, os preços das garrafas subiram entre 30 a 40%. “A inflação é medonha”, diz Luís Vieira, adiantando que também nas caixas de cartão e nos rótulos há aumentos desta ordem.
Subidas “impossíveis de repercutir” no preço final dos vinhos, devido à capacidade negocial dos clientes e ao facto de a concorrência nem sempre subir os preços.
Pedro Ribeiro, director-geral da Herdade do Rocim, diz que se vivem tempos de muita incerteza, não apenas porque os prazos de entrega das encomendas não são certos, como também porque os preços das garrafas estão sempre a aumentar.
Para se precaver, a empresa optou por fazer stocks de maiores dimensões.
“Temos garrafas para o primeiro semestre, mas a tesouraria sentiu o impacto de fazer face a esta necessidade”.
Nas caixas de cartão também se sentem algumas dificuldades de fornecimento, “mas não tão graves”. Mas verifica-se uma “subida constante dos preços”.
“Faltam caixas e garrafas e [os fabricantes] não garantem prazos de entrega. Além disso, tivemos de deixar de usar alguns modelos, porque deixaram de ser fabricados”, conta Carlos Pereira Fonseca, administrador da Companhia Agrícola do Sanguinhal.
Além da falta de garrafas, o empresário do Bombarral fala nos “tremendos” aumentos de preços deste artigo. “A partir de Outubro já se sentiam dificuldades, que se agravaram com a guerra na Ucrânia”.
A isto juntam-se “imensos atrasos” nas entregas de caixas. Com dificuldade de acesso a artigos essenciais à actividade, há ainda outro problema: “queremos exportar e não há barcos. E os preços dos contentores dispararam de maneira inadmissível”, frisa o empresário.
“Há muita gente a ganhar muito dinheiro com a guerra”, lamenta Carlos Fonseca Pereira, adiantando que há dois meses devia ter enviado encomendas para os Estados Unidos e para o Oriente e não consegue devido à falta de transporte marítimo.