O estudo e, sobretudo, a Matemática sempre foram uma “diversão” para Fátima Mota. De tal forma, que em criança, quando a chaminé da casa da avó se incendiou e temendo que o fogo alastrasse, a sua preocupação foi correr para salvar a mochila da escola e os livros. Não foi, por isso, surpresa que tenha escolhido a área científica, acabando por se formar em Engenharia Química.
Nascida no Brasil, onde os pais – naturais de Bidoeira de Cima, Leiria – estiveram emigrados até que completou quatro anos, Fátima Mota tem feito carreira em França, onde é investigadora no Centro Nacional de Investigação Científica. Em paralelo, participa em vários projectos com as agências espaciais francesa, europeia e americana, que implicam experiências sem gravidade e voos parabólicos.
“O acaso aproximou-me do sonho de infância de ser astronauta”, diz Fátima Mota, confessando que no momento de escolher a área a seguir não deu crédito a essa ambição de menina por achar que “não era uma coisa” para ela. O destino encarregou-se, no entanto, de a aproximar desse caminho quando, em 2013, foi contratada para trabalhar num laboratório da Agência Espacial de França em Marselha na área do estudo dos materiais, onde ficou dois anos, antes de passar por um concurso público que lhe garantiu um lugar no Centro Nacional de Investigação Científica, integrando actualmente o Instituto de Materiais Micro-Electrónicos e Nanociências.
“Trabalho na área dos materiais, nomeadamente, com ligas metálicas usadas nos motores dos automóveis ou dos aviões. O objectivo é melhorar as propriedades dos materiais, torná-los mais leves e, simultaneamente, mais resistentes, e diminuir os custos”, explica a investigadora, doutorada em Engenharia Química.
Da indústria à investigação
Fátima Mota conta que, inicialmente, o plano passava por trabalhar na indústria, mas o desafio lançado por uma docente da Universidade do Porto acabou por a desviar para a investigação. “Tive várias propostas para doutoramento, mas sempre recusei, até que essa professora me propôs um estudo ligado a produtos farmacêuticos que me despertou interesse”, recorda, explicando que o trabalho consistiu em “perceber como é que os medicamentos se dissolvem no organismo, desde que os ingerimos até chegarem ao estômago”.
Desse trabalho, resultou a tese de doutoramento, que lhe valeu um terceiro lugar num prémio promovido pela Federação de Engenharia Química Europeia, e a “descoberta” de que a investigação era o seu mundo. “Trabalhar nesta área implica estudo constante e, como sempre gostei muito de estudar, percebi que a investigação seria o meu caminho.”
Concluído o doutoramento, feito na Universidade do Porto, Fátima Mota quis ter uma experiência no estrangeiro. “Em Portugal, ter currículo internacional ajuda a abrir portas”, constata a investigadora, de 39 anos, que se estreou além-fronteiras num laboratório da petrolífera Total em Toulouse. A perspectiva era ficar apenas os dois anos de contrato, mas o amor trocou-lhe as voltas.
“Conheci uma pessoa e o plano alterou-se. Quando acabei a ligação à Total, tentei encontrar oportunidades em Marselha, para onde o meu companheiro se mudou por razões profissionais. Não estava a encontrar nada na área da química associada às indústrias farmacêutica ou petrolífera, quando surgiu uma proposta da Agência Espacial Francesa”, recorda.
Ficou dois anos nesse organismo até que, em 2016, conseguiu, após concurso público, lugar no Centro Nacional de Investigação Científica. “Finalmente, uma posição estável”, diz, sorrindo, assumindo que o regresso ao nosso País não está nos seus planos, embora procure colaborar com grupos de investigação em Portugal. Também não dispensa uma temporada de férias na Bidoeira, junto da família.