Há 24 anos, José Carlos Pereira festejou, às portas do Parlamento, a elevação de Fátima a concelho. Seria apenas por um dia, com a causa a sucumbir ao veto presidencial. A luta reacende-se agora, com a criação de uma comissão ‘pró-concelho’, liderada por um grupo de jovens da freguesia. E, tal como em 2003, José Pereira aplaude a pretensão.
“É uma necessidade. Se tivéssemos autonomia, já muita coisa teria sido feita. Nota-se que há agora mais investimento da câmara, mas Fátima precisa de muito mais”, afirma o morador, que espera que “desta vez seja a sério”.
O mesmo sonho tem José Santos, comerciante, para quem a elevação a concelho é “uma causa justa, que só perca por tardia”. “Levamos o dinheiro para Ourém, mas os benefícios são poucos. Não temos um jardim. Só agora fizeram um parque infantil, que mais parece uma caixa de fósforos, e a zona desportiva tem apenas o estádio”, lamenta, convicto que a autonomia trará “mais desenvolvimento” à freguesia, que, na última década, viu a sua população crescer 14%, tendo agora perto de 13.300 habitantes.
A trabalhar no ramo imobiliário, Filipe Pereira, de 31 anos, é o presidente da comissão ‘pró-concelho’ de Fátima. Com ele, está um grupo de jovens da freguesia, todos na casa dos 30 anos, que se diz “apartidário” e que foi criado de “forma espontânea”, por acreditar que a criação do concelho “é uma ambição justa de todos os fatimenses”.
“Pela sua realidade nacional e internacional”, Fátima carece de uma administração própria, “mais próxima e com capacidade de permanente e rápida actuação para resolver as questões emergentes da sua população fixa, mas também dos milhões de turistas”, afirmou Filipe Pereira, durante a apresentação da comissão, que teve lugar no sábado.
Na sessão, esteve Vítor Frazão, ex-presidente da Junta de Fátima e da Câmara de Ourém, que, no final do ano passado, anunciou o abandono da vida política, com a promessa de voltar “à luta” pela elevação a concelho.
“Não é um capricho ou uma vaidade, mas uma necessidade premente, não só para Fátima, mas para a outras freguesias de Ourém”, alega o antigo autarca.
“A causa não está a renascer porque nunca morreu”, afirma, por sua vez, José Poças das Neves, líder da Assembleia de Freguesia, confiante que o retomar do debate sobre a regionalização pode “favorecer” o processo de Fátima.
O mesmo entendimento tem o presidente da Junta, Humberto Silva, para quem o restante concelho de Ourém também terá “muito a ganhar” com a autonomia de Fátima. Para já, os órgãos autárquicos não foram chamados ao movimento, mas a intenção dos seus fundadores é envolver no processo “todos” aqueles que se identificam com a causa.