A iniciativa arrancou em 2012 e, tal como tem acontecido em quase todos os projectos de cariz humanitário, acabou por colher a adesão de alguns participantes do distrito de Leiria.
Mário Nunes, da Marinha Grande, é um dos participantes do Sahara Desert Challeng. E conta na primeira pessoa como um grupo de europeus se uniu para trilhar o percurso do velho Paris – Dakar, deixando, pelas aldeias onde passa, bens essenciais para escolas e hospitais.
A gratidão e as histórias mirabolantes vividas com a população local são a maior recompensa deste projecto, realça Mário Nunes, que partilha agora algumas dessas vivências com o JORNAL DE LEIRIA.
“Na Mauritânia, em Vale Blanch, parados numa aldeia remota onde fomos entregar material hospitalar, dei com um problema num tubo de óleo que nos impedia de prosseguir viagem com o veículo. Ora, como para tudo há solução, neste caso a solução era esperar umas belas horas até que a solda a frio, aplicada no tubo, secasse”, relata Mário Nunes. “Com a fome a apertar, eis que aparece um senhor mauritano com um belo sorriso e a oferecer comida. Era uma bexiga de cabra recheada de tâmaras, que aceitámos de bom grado. Mas escusado será dizer que a dita bexiga e as tâmaras estão intactas na prateleira das recordações cá em casa”, conta Mário, que se apressa a desfiar outra história decorrida no Senegal.
“De volta de Tambacounda e com uma jornada de 900 quilómetros para cumprir, onde teríamos de atravessar uma das piores estradas do mundo (barragem de Diama, fronteira Senegal -Mauritânia), em direcção a Noukchaut (capital da Mauritânia), somos mandados parar por um militar armado, com cara de poucos amigos, que confisca o passaporte a todos os ocupantes das cinco viaturas em que seguíamos. Informou- nos que apenas poderíamos prosseguir viajem caso respondêssemoscorrectamente à pergunta que nos iria colocar: 'quem marcou o golo que deu a vitória do Europeu a Portugal?'”
“Escusado será dizer que, preocupados com tantos quilómetros para cumprir antes que a fronteira fechasse, e pressionados por um militar fortemente armado e intransigente com os nossos passaportes na mão, entre as 20 pessoas que ali estavam paradas ninguém se lembrava do nome do jogador”, recorda Mário Nunes.
“Sem cobertura de internet naquele local, estivemos cerca de meia hora parados, sem ninguém saber muito bem como resolver aquilo, até que um de nós teve uma epifania e se recordou do jogador: 'Eder'. Ora o militar, com um sorriso gigante, devolve os passaportes a toda a gente e diz em Português perfeito 'não fui eu, mas é o meu nome’ e prossegue com um 'bonne route'”.
O Sahara Desert Challenge acontece desde 2012 e une participantes de vários países, entre os quais portugueses, espanhóis, italianos e britânicos, que partem de Coruche, atravessam Portugal, Espanha, Marrocos, Mauritânia e Senegal até chegar a Dakar. Mário Nunes, que participa nesta iniciativa desde 2017, explica que, entre cada uma das edições anuais, os participantes têm por missão angariar patrocinadores, material escolar e médico, que deixam depois pelas aldeias por onde passa a sua caravana.
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