Hugo Menino Aguiar foi ontem (quinta-feira, 6) reconduzido na presidência da Fazer Avançar (AFA), num acto eleitoral com lista única que abre uma nova etapa, após vários meses de instabilidade na associação.
Uma consequência imediata prende-se com o estatuto da AFA: deixará de ser uma associação juvenil para procurar obter o estatuto de utilidade pública ou de organização não-governamental para o desenvolvimento (ONDG).
Para trás, há um trabalho considerado pioneiro e premiado em Portugal e no estrangeiro. Pela frente, o programa da lista A anuncia três prioridades: integração social de pessoas migrantes e refugiadas; partilha de boas práticas de inovação social; capacitação e mobilidade jovem.
Zanga e demissão. Com o projecto Speak em pano de fundo, as divergências internas culminaram com Hugo Menino Aguiar a demitir-se, no início de 2018, debaixo da contestação de alguns associados, incluindo co-fundadores, que entretanto criaram uma nova associação, também com sede em Leiria, a ***Asteriscos.
A crise interna tem origem na profissionalização, expansão e internacionalização para Itália, Espanha e Alemanha do programa de intercâmbio de línguas e cultura Speak, inicialmente baseado em voluntários, objectivo que levou à captação de 500 mil euros em financiamento e à criação de uma empresa privada, a Share Your World, na qual Hugo Menino Aguiar é o sócio maioritário a título individual e a AFA se encontra reduzida a uma participação de 10%.
Enquanto, ao mesmo tempo, de acordo com os críticos, outros projectos da associação, igualmente apoiados no voluntariado, de que são exemplo o Eu Desportivo e o Happiness Club, acabaram esvaziados ou descontinuados.
Auditoria externa. Já demissionário, Hugo Menino Aguiar apresentou no passado mês de Maio, em assembleia geral, as conclusões de uma auditoria externa independente que alertava para o registo de subsídios e donativos numa óptica de caixa. O que, segundo o auditor, desrespeita os procedimentos e regras de contabilidade, origina desequilíbrios e contribui para uma fotografia financeira que não representa a imagem real das contas.
Hugo Menino Aguiar considerou o relatório positivo, por contribuir para o aumento da transparência e para a melhoria da qualidade da organização, gestão e tomada de decisão. E o próprio conselho fiscal, que sugeriu a auditoria, acabou por reconhecer que a direcção saiu reforçada, apesar de algumas recomendações técnicas relacionadas com aspectos de controlo interno e de contabilização.
Na mesma assembleia geral, de Maio, foram aprovadas as contas da Fazer Avançar, com parecer negativo do conselho fiscal, que alegou que o documento não espelha "na totalidade, de forma verdadeira e apropriada, todos os aspectos da posição financeira da associação". Registaram-se 22 votos contra e 65 a favor, validando um resultado líquido positivo de 122.427,71 euros no exercício de 2017.
O parecer negativo do conselho fiscal foi justificado com valores a receber de entidades terceiras, nomeadamente, subsídios a que a AFA tem direito do Portugal Inovação Social, Alto Comissariado para as Migrações e Fundação Calouste Gulbenkian, entre outros, que não se encontravam reflectidos nas contas da associação. Só do Alto Comissariado para as Migrações o valor ascendia, à data, a mais de 100 mil euros.
Novos rostos. As eleições realizadas ontem, 6 de Setembro, determinam que Hugo Menino Aguiar retoma a direcção da Fazer Avançar, enquanto Margarida Couto e João Ferrão dos Santos são os novos rostos a liderar, respectivamente, a Mesa da Assembleia Geral e o Conselho Fiscal, substituindo Sofia Fernandes e Sandra Sousa.