As alterações no funcionamento executivo são das queixas mais comuns em neurodesenvolvimento. Muitos pais chegam à consulta preocupados com o insucesso escolar dos filhos, apontando-lhes desmotivação, preguiça e desorganização, caraterísticas que hipotecam o potencial de aprendizagem, que sabem existir.
A par destas queixas, são também frequentes dificuldades no controlo emocional e esta combinação de manifestações deixa os pais de cabelos em pé. Falo de miúdos desatentos, impulsivos, com tendência a argumentar, a protelar tarefas, a cometer erros por descuido e que mostram fraca tolerância à frustração.
Perante este quadro, que associa perturbação do comportamento e do rendimento académico, deve considerar-se o domínio das funções executivas, altamente recrutado no processo de aprendizagem e na regulação comportamental.
E o que são as funções executivas? Há quem as considere o CEO do cérebro, pois delas dependem as nossas competências de autorregulação, essenciais para planear, organizar, tomar decisões, aprender com os erros, controlar emoções e impulsividade.
Há de facto alterações clinicamente identificáveis a este nível, não se tratando de imaturidade, como muitos apregoam, nem de parentalidades mais permissivas. Chamemos os bois pelos nomes: é no controlo inibitório, na flexibilidade cognitiva e na memória de trabalho que poderão residir as dificuldades.
Então, que estratégias usar nas férias? Como estas crianças raramente se lembram que se vão esquecer, eis algumas dicas capazes de reduzir o cansaço parental e as chamadas de atenção constantes: definir antecipada e claramente as etapas necessárias à conclusão de uma tarefa e usar listas de verificação; definir limites de tempo; utilizar agendas; explicar a lógica das situações para criar sentido e compromisso; estabelecer rotinas e horários; explorar diferentes formas de aprender; usar recompensas; e ensinar estratégias de autorregulação, que precisam de demonstração como qualquer outra competência.
Bom descanso!
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990