A perder fiéis para as festas profanas, a Igreja Católica sentiu necessidade de abrilhantar as suas celebrações religiosas com a presença de músicos e, dessa forma, fazer face à concorrência dessas outras festividades que surgiam por todo o País. Esta terá sido a razão pela qual tantas bandas filarmónicas foram criadas há 150 ou 200 anos. Entre elas, a Filarmónica de Chãs, que anima as gentes de Leiria desde 1896.
Mas, ao longo de 122 anos de actividade, muito mudou neste grupo, explica Dinis Fernandes, o presidente de direcção, que acompanha a sociedade há cerca de três décadas. Muito, menos uma condição. Chama-se competência e é o único e grande critério diferenciador de todos os elementos que formam a banda da Filarmónica de Chãs, salienta Dinis Fernandes.
À imagem do que sucedia habitualmente com as outras bandas filarmónicas, também a das Chãs se formou com recurso a músicos e maestros oriundos das várias bandas militares que então proliferavam. E foi assim que, em 1896, a família Vieira reuniu um grupo de pessoas, que tinham o prazer da música em comum, mas que, por falta de um espaço próprio, ensaiavam aqui e ali, fazendo-se transportar com os seus instrumentos, à medida que uma garagem ou anexo ficava disponível.
A criação de uma pequena sede só se tornaria uma realidade muitos anos depois, explica Dinis Fernandes, que se recorda dos tempos em que todos se apertavam para poder caber nessa primeira pequena CASA. A grande obra da Filarmónica de Chãs – devido à sua necessidade premente de espaço–foi a construção da actual sede da associação, inaugurada em 2010, um trabalho realizado por várias fases, que envolveu um investimento de cerca de um milhão de euros, e do qual se orgulham hoje os directores, professores, alunos e músicos daquela casa.
A construção de uma zona de lazer, contígua às instalações da sede, é o novo projecto da associação, e que já se encontra em curso.
Além da banda, que está na sua génese, a Filarmónica de Chãs disponibiliza hoje duas vertentes de ensino. A música, através da Escola de Música de Chãs, dirigida por Liliana Gaspar, e a dança, dirigida por Cláudia Cardoso, através da Escola de Dança Staccato.
E são cerca de 100 os alunos de música, formados por 15 pro-fessores, e cerca de 100 os alunos de dança, formados por dois professores. E ao contrário de outras modalidades artísticas ou desportivas, que dividem os seus elementos por idades, sexo ou peso, a única condição para a entrada nesta banda dirigida pelo maestro Rolando Ferreira é a competência, frisa Dinis Fernandes, tão satisfeito com a prestação de jovens músicos, de 11 anos, como a prestação do elemento mais antigo, de 62 anos. Esta casa tem de resto contribuído para a formação de bons públicos e bons músicos, nota o presidente de direcção.
Entre as figuras de grande talento que passaram pela Filarmónica de Chãs consta João Gaspar, exemplifica Dinis Fernandes. Doutorado em Música, o jovem é músico da banda militar da Força Aérea e, tendo estudado na escola de música de Chãs entrou directamente para o Conservatório da Orquestra Metropolitana de Lisboa.
[LER_MAIS] Tiago Pagaimo foi outro dos músicos que se destacou nesta escola e que, depois dela, continuou o seu percurso na Orquestra Metropolitana de Lisboa, acrescenta Dinis Fernandes.
Quanto ao futuro, assim espera o presidente da Filarmónica de Chãs, passa por criar um museu na sede da associação, onde serão exibidos instrumentos, pautas e outros documentos antigos. E continuará a passar pela aposta na qualidade da formação e das viagens internacionais, que contribuem para a aprendizagem dos músicos.