O pai de Sandra Guerra faria no passado sábado, 74 anos, mas Aníbal Gil Guerra morreu a 18 de Setembro de 2022, depois de ter dado entrada, várias vezes, no Hospital de Santo André, do Centro Hospitalar de Leiria (CHL). A filha acredita que o serviço de Ortopedia II não fez tudo o que devia, para que a fractura bimaleolar que levou o pai ao hospital, após um desmaio, não culminasse na sua morte.
No dia 1 de Julho de 2022, Aníbal desmaiou em casa, caiu e sofreu uma fractura. Transportado ao hospital o episódio foi relatado. Após 22 horas, Aníbal deu entrada no serviço de Ortopedia II, onde ficou internado dois dias. “O meu pai teve dois desmaios, mas o director de serviço colocou-lhe gesso e deu-lhe alta. Tenho de referir que o meu pai era obeso e tinha autorização para se apoiar sobre o gesso.” Quando os familiares o foram buscar, Aníbal voltou a desmaiar.
“Sabendo que o meu pai desmaiou duas vezes no serviço, o director ia dar- -lhe alta na mesma, sem nunca lhe terem feito uma TAC. Entenderam que seriam problemas de coração e transferiram-no para a Unidade de Cuidados Intensivos Cardíacos, serviço que o meu pai adorou e foi muito bem tratado”, destaca Sandra.
Considerando o problema cardíaco “não muito grave”, o recomendado foi fazer uma ressonância magnética. “Por ser obeso, o meu pai não cabia na máquina e disseram que teria de ir a Lisboa fazer o exame, o que nunca chegou a acontecer”, conta.
Aníbal foi para casa com o gesso, com consulta agendada para o dia 27 Julho 2022. “Constatou-se o óbvio: teria de ser operado. Quando questionado por riscos, o médico desvalorizou-os.”
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e deu-lhe alta
A operação aconteceu no dia 5 Agosto e “correu bem”. O médico que o operou ”era muito atencioso”. “Foi muitas vezes, depois da operação, visitá-lo ao internamento.”
“No dia 8 de Agosto, mandaram-no para casa, com a indicação para trocar o penso no centro de saúde. Mas, ganhou infecção durante a cicatrização, e no dia 14 de Agosto voltou a ser internado. O hospital de Leiria tem uma máquina de vapores, em que os pensos que colocam, aceleram a cicatrização, mas o meu pai ficou em espera”, reclama.
“Desde o dia 14 de Agosto até ao dia 4 de Setembro, o meu pai esperou pela máquina milagrosa. Foram 22 dias. Imagine-se uma pessoa obesa, diabética e com outros problemas de saúde – mas activo – três semanas numa cama de hospital. Não foi considerado doente prioritário e nem houve o cuidado de lhe fazerem exercícios preventivos”, critica a filha.
“No dia 10 de Setembro, faltavam dois dias, para lhe retirarem a máquina dos vapores, na hora das visitas, o meu irmão encontrou-o desmaiado no quarto, no serviço de Ortopedia II. Não sabemos quanto tempo esteve assim. Depois, não sei o que lhe fizeram entre as 16, hora em que o meu irmão o encontrou, e as 18:48, hora em que o meu pai deu entrada na Unidade de Acidentes Vasculares de Coimbra. Quando chegou a Coimbra já era tarde demais. Ficou em estado vegetativo”, lamenta.
Dias depois faleceu e a certidão de óbito não refere a causa da morte. Os familiares sabem que teve uma lesão estrutural no cérebro, devido a um AVC isquémico, no lado esquerdo.
Sandra afirma que a única coisa que pretende é que o que se passou com o pai “não volte a acontecer com ninguém”, pois acredita que se nos primeiros desmaios lhe tivessem realizado uma TAC, teriam detectado eventuais coágulos, que poderiam ter sido removidos a tempo.
“Não é possível darem alta, a uma pessoa, que desmaiou várias vezes.” Ao fim de nove meses, a família ainda aguarda informações clínicas que solicitou ao serviço de Ortopedia II do hospital de Leiria.
Até à hora do fecho da edição, o CHL não respondeu às perguntas enviadas pelo JORNAL DE LEIRIA para esclarecimento deste caso.
*Em baixo a resposta recebida no dia 15 de Junho, já depois do JORNAL DE LEIRIA estar nas bancas
Hospital de Leiria repudia afirmações
“O Centro Hospitalar de Leiria (CHL) compreende a consternação da senhora Sandra Guerra pelo falecimento do seu pai, ocorrido em Setembro de 2022, facto que o CHL também lamenta. Contudo, não pode deixar de repudiar as afirmações de Sandra Guerra divulgadas no Jornal de Leiria, bem como quaisquer suspeições infundadamente levantadas contra o CHL.
O referido utente esteve efectivamente internado no Serviço de Ortopedia II, onde foi assistido de forma adequada às suas condições clínicas, não existindo quaisquer indícios de erro ou negligência médica. Após o falecimento, o CHL prestou as devidas informações e esclarecimentos à família do utente e disponibilizou-lhe todos os elementos do processo clínico, não existindo qualquer correlação entre a assistência prestada no CHL e a provável causa da morte.
Mais se esclarece que, até ao momento, o CHL não recebeu qualquer queixa ou reclamação relativa a este assunto.”