Em Alqueidão da Serra, Raquel, Nuno e António Carvalho formam uma família sui generis de ROC. Carla e João Portugal abraçaram o amor à fotografia tal como o pai e o avô, enquanto José Carlos Carreira trocou a banca pela solicitadoria, profissão dos pais. Ao JORNAL DE LEIRIA explicam as suas escolhas e os seus percursos.
Psicólogo, actor e encenador, João Lázaro diz “nunca ter querido” que as filhas lhe seguissem as pisadas em termos profissionais. Mas elas reconhecem que foi quase inevitável. Uma influência indirecta, asseguram tanto Ana como Alexandra Lázaro.
A primeira acabou por, tal como o pai, não resistir ao apelo do palco e enveredou pelo teatro. Alexandra, para quem em criança o consultório do pai tinha “qualquer coisa de místico”, seguiu outra paixão paterna: a psicologia. Rafael, o mais novo dos três filhos, já mostra alguma apetência pela escrita e pelas histórias, outro dos amores de João Lázaro.
Mas, na simplicidade dos seus seis anos, lá vai dizendo que quer ser arquitecto, professor, apresentador de filmes, realizador de cinema…. “Nunca quis que os meus filhos fizessem aquilo que faço. Se não, não passam de mim. Quero que sejam muito mais do que eu”, afirma João Lázaro, referindo que, de forma mais ou menos deliberada, foi tentando que as filhas não seguissem as mesmas áreas do que ele.
“Desde pequenita que a Ana me pedia para ir para o Te- Ato [grupo de teatro de Leiria ao qual João Lázaro está ligado], mas, para entrar, é preciso ter o 9.º ano ou 16 anos.”
Quando completou o 9.º ano, Ana apresentou-se 'ao serviço'. “Não houve outro remédio” e entrou mesmo no Te-Ato, onde João Lázaro fez questão que ela desempenhasse “todas as tarefas” que há para fazer nesta actividade. “Não tanto para a desencorajar”, mas para que “percebesse que em todas as áreas há partes muito interessantes e outras menos”.
Com Alexandra, também lhe foi explicando que a psicologia “não é uma caixinha de magia, de onde se tiram soluções fáceis, mas que é um exercício que obriga a uma dedicação total”. Apesar das reticências do pai, tanto Ana como Alexandra seguiram-lhe as pisadas.
“Desde sempre que me lembro de ter uma relação próxima com o teatro. Assistia aos ensaios e aos espectáculos. Percebi, desde muito nova, que teria de seguir uma área artística”, conta Ana, de 33 anos. Feito o secundário, fez a licenciatura da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa e passou pela Act – Escola de Actores.
Após alguns anos a trabalhar apenas como actriz, passou também a fazer encenação e criou o núcleo artístico Dobrar, na área da multimédia. Prepara- se, agora, para se estrear na literatura, com um livro para crianças. Alexandra ainda equacionou, no final do 12.º ano, cursar fotografia ou marketing, mas a paixão pela psicologia levou a melhor.
“Talvez a experiência do meu pai tenha tido influência indirecta. Quando era pequena, o espaço do consultório exercia uma certa mística sobre mim. Punha-me a imaginar o que se passaria dentro daquela sala, as história que por lá passavam”, recorda.
Quando terminou o curso, surgiu o dilema: trabalhar em Lisboa na área clínica, onde tinha uma oferta de emprego, ou regressar a Leiria e trabalhar no consultório do pai em psicologia na infância, a área que queria seguir. “Lázaro é um apelido conhecido em Leiria.
Talvez receasse ficar na sombra e ser 'apenas' a filha de…”, admite Alexandra. A este temor, o pai respondia: “Quero que fiques, não por seres minha filha, mas por seres muito boa profissional”. E, a história deu-lhe razão, assegura.
“Hoje, já ligam para o consultório a pedir especificamente, para serem atendidos por ela”, diz João Lázaro, com indisfarçável orgulho, o mesmo que sente quando pessoas do teatro lhe perguntam, ao referir o apelido, se é o pai da Ana Lázaro, como lhe aconteceu aquando da sua participação no filme Até Amanhã Camaradas.
“Invejo muito as encenações da Ana e mais ainda os textos que escreve. Ou quando a Alexandra faz a interpretação de um caso e digo: 'bolas, ela percebe disto'. Não quero que sejam filhas de peixe. Eu sou um peixinho de aquário. Elas são peixe de mar alto”, conclui João Lázaro.
“Mexer no peixe é uma terapia”
Com “quatro ou cinco anos”, Inês Fialho já ajudava a mãe e a avó, que vendiam peixe no mercado da Nazaré e que, desde que se conhecem, se dedicam à arte de secar o pescado, sobretudo carapau, mas também petinga, cação ou batuques (também conhecidos como verdinhos). “Foi esta a vida da minha avó, bisavó e trisavó.
Naqueles tempos, não havia porto de abrigo. O peixe que se pescava no Verão era seco para vender no Inverno nas terras à volta da Nazaré”, conta Isaura Fialho, mãe de Inês, que se esforçou, no entanto, para que a filha seguisse uma vida diferente.
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