Sempre que a selecção nacional de futebol disputa um Europeu ou Mundial é fácil encontrar em cafés ou restaurantes grupos de pessoas reunidos para apoiar a equipa das quinas. Dificilmente outra modalidade consegue ter a capacidade de agregar gente com os olhos posto num ecrã a torcer pela vitória. Mas, Leiria é uma das poucas cidades portuguesas onde o andebol é rei.
A tradição da modalidade vem do tempo em que o concelho tinha três boas equipas e o pavilhão de Leiria se enchia para ver grandes jogos. Talvez por isso haja um lugar na cidade do Lis onde a ‘malta’ do andebol pode reunir-se para assistir aos jogos de andebol.
O Filipes Bar, no Terreiro, está habitualmente encerrado. No domingo, abriu portas para receber amigos e conhecidos para assistirem ao jogo entre Portugal e a Suécia do Campeonato da Europa de andebol. Com o leiriense Pedro Portela entre as estrelas dos Heróis do Mar, mais de 30 pessoas juntaram-se na esplanada e dentro do bar para acompanharem o Portugal-Suécia.
Com início às 17 horas, Filipe Oliveira, um dos proprietários, conta que quando chegou às 16:30 horas já havia gente à espera que o bar abrisse. “Até me ajudaram a montar a televisão e a esplanada.”
O Filipes Bar tem tradição no meio andebolístico. Filipe Oliveira foi praticante, assim como a mulher, Maria João, e as filhas Inês e Joana Oliveira. A primeira acabou por deixar o andebol. Joana chegou a internacional, mas falhou o mundial, porque a equipa portuguesa apanhou Covid-19. Uma grave lesão afastou-a dos grandes palcos, estando agora a representar o SIR 1.º Maio.
Entre uns amendoins e umas imperiais, os adeptos – praticamente todos com ligações ao andebol da região – foram vibrando com os golos e as defesas de Gustavo Capdeville. Mas, na bancada do Filipes as maiores ovações foram para o menino da casa: Pedro Portela.
O miúdo, que começou a dar os primeiros passos no Académico de Leiria, é uma das estrelas da selecção nacional e o principal marcador dos livres de sete metros. Sempre que foi chamado à conversão, Portela não desiludiu, o que arrancou palmas efusivas ao público presente no Terreiro sempre que os golos tinham a mão do Pedro. As conversas giraram sempre em torno do andebol e, claro, do ponta direita de Leiria.
Entre os presentes estavam, pelo menos, companheiros das camadas jovens que recordaram como já na altura Pedro Portela era um craque. “Era o Portela, nós e os outros. Houve um jogo em que o Pedro marcou mais golos do que o adversário. O resultado foi 51-25 e o Portela marcou 26 golos”, recorda Eugénio Santos, que jogou com o internacional do Sporting em iniciados no Académico de Leiria.
Pedro Simões, que também fez parte da mesma equipa, fez questão de se juntar com os amigos para ver, sobretudo, Portela em mais um jogo com a camisola das quinas. Confessa que vibra mais quando o golo tem as mãos do andebolista made in Leiria.
“Nem ligamos muito a desporto, mas quando joga a selecção e o Portela vemos os jogos todos”, confessa Eugénio Santos, que revela que a amizade que os une mantém-se até hoje. Os antigos atletas viajaram até Nantes para ver Pedro Portela jogar. “Um dia antes, lesionou-se. Ele que nunca se tinha lesionado. Portanto, fomos a Nantes ver o Portela de muletas…”, recorda, avisando que se Portugal garantir a presença nos Jogos Olímpicos de Paris, o lugar está reservado.
Pedro Vieira, antigo pivot do Académico de Leiria, afirma que não perde um jogo internacional do Sporting e de ver Portela de ‘leão’ ao peito.
“O Portela é um exemplo como atleta e como pessoa. Joguei com o irmão dele e sempre percebi que o Pedro tinha reservado para ele outros voos. Era notório o futuro brilhante que o esperava”, entende Pedro Vieira. Sentado ao lado de outros antigos jogadores, de uma geração mais velha, Pedro Vieira acrescenta que Pedro Portela “representa o andebol de Leiria e toda uma região”.
O jogo frente à Suécia não correu da melhor forma para Portugal, que saiu derrotado do confronto com os nórdicos. Portugal ficou arredado da luta pelo quinto lugar, depois de empatar com os Países Baixos, mas conseguiu garantir uma presença no torneio pré-olímpico, após a vitória da Islândia sobre Áustria.