Crescer, crescer, crescer. Quem não tem presente esta “receita” que, sistematicamente, ouvimos e lemos, pelos cálculos dos líderes do Banco Central Europeu, do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, agitados num cocktail composto de instabilidade, alertas e medidas que ninguém compreende, mas que comportam a (permanente) máxima da necessidade de investir mais, rentabilizar mais, produzir mais.
O dito crescimento económico depende, em parte, dos (finitos) recursos naturais. Como consequência, assistimos à perda da biodiversidade, às alterações climáticas, à diminuição de água e de alimentos, face a um estilo de vida que passámos a adotar, com elevados impactos no planeta.
A Global Footprint Network (organização internacional para a sustentabilidade) estima que a humanidade vai esgotar, no próximo dia 1 de agosto, os recursos naturais que a Terra possui com capacidade de renovação durante este ano. Ou seja, em sete meses usámos o que demora 12 para regenerar.
E se isto ocorre com os recursos naturais, na atividade turística, pela promoção desenfreada que visa a obtenção de mais e mais turistas, alguns locais e destinos registam elevados números de pessoas que acabam por não ter a experiência positiva que a fotografia que viram no Instagram lhes sugeria…
Um exemplo: a visita e o acesso às Grutas de Benagil, no Algarve, regista, em simultâneo, centenas de turistas, tornando a visita uma desilusão, mesmo que o local seja paradisíaco. Um excesso de procura e a ausência de regras e de gestão do território, permitiu que as licenças marítimo-turísticas, que eram concedidas apenas a pescadores, tivessem passado de 120 em 2010 para 528 em 2022. E só no ano passado foi criada uma Comissão para estudar a forma de travar esta “invasão”.
O exponencial crescimento da atividade turística das últimas décadas, não pode continuar a causar efeitos nefastos nos destinos, com particular incidência no património erigido e natural. Precisamos de intensificar a sustentabilidade na atividade turística e de apresentar o nosso País como um destino turístico sustentável e seguro, com qualificados agentes do setor, definindo e assegurando a capacidade de carga dos locais mais visitados.
A atividade turística deve valorizar o elemento económico, mas simultaneamente a questão da qualidade da experiência do turista e dos serviços prestados, enquanto pilar da preservação e gestão racional dos recursos que congregam a riqueza do turismo nacional.
Não basta crescer, crescer, crescer. Há que preservar e gerir, com equilíbrio.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990