Nas última semanas foram noticiadas várias manifestações por parte de moradores e comerciantes de Sintra face ao elevado número de turistas que visitam a Vila, provocando o caos no trânsito.Alfama, em Lisboa, tem vindo a perder a sua identidade. Com a morte dos mais idosos, os habituais estendais de roupa dos moradores são cada vez mais reduzidos, sem que exista repovoamento.
É a gentrificação (valorização imobiliária de uma zona urbana que origina a deslocação dos seus residentes com pouco poder económico para outro local e a consequente substituição por residentes/atividades com maior poder económico) no seu expoente máximo, com os imóveis a serem redirecionados para a atividade turística e para os milhares de reformados europeus que ao abrigo do regime fiscal do Residente Não Habitual têm comprado apartamentos em Lisboa e no Porto, levando à crescente especulação imobiliária.
Sabemos que quem quer ir visitar o Palácio da Pena terá de ir a Sintra, tal como quem quer ir provar os Pastéis de Belém tem de se deslocar a Lisboa. Os turistas pretendem conhecer, especificamente, um determinado local pelos recursos patrimoniais, gastronómicos, religiosos ou históricos.
Porém, se ocorrer uma promoção internacional que projete os inúmeros recursos que o nosso país detém, em estreita articulação com os operadores turísticos, agências de viagens e regiões de turismo, desenhando pacotes que contemplem menos dias em Lisboa ou no Porto e outros destinos, como por exemplo Leiria, Batalha e Ourém, o turista passa a identificar um conjunto de outros atrativos de elevado interesse, permitindo dois ganhos: aliviar a pressão turística nas grandes cidades e dar a conhecer a riqueza e diversidade do País.
Pelo que se depreende, gestão é a palavra chave… A gestão da atividade turística é fundamental para o equilíbrio entre a economia turística e a qualidade de vida dos residentes. A gestão concretiza-se com diversas ações e em estreita articulação com os protagonistas de vários domínios.
Veja-se o que aconteceu com a “La Vuelta 2024” (Volta a Espanha): aquela que é uma das grandes provas internacionais de ciclismo, transmitida para todo o mundo. A segunda etapa, que ligou Cascais a Ourém, levou mais de 50 mil pessoas a juntarem-se nesta cidade e a adicionais ocupações hoteleiras em Fátima e em Leiria. A projeção mundial deste evento contribuirá para que nos próximos anos milhares de pessoas queiram conhecer esta região.
Este é um claro exemplo de como a gestão estratégica de um evento (que não começou em Lisboa) projetou estes territórios à escala mundial, com ganhos económicos e turísticos. Que não nos esqueçamos que Portugal não é só Lisboa…
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990