“Estou a fazer um trabalho para a escola e queria saber como se faz uma notícia e um jornal”. Foi desta forma que Tiago Pinto Pais se apresentou, sozinho, na redação do JORNAL DE LEIRIA em 1993. Tinha, então, nove anos e atravessou a cidade até à Praça Rodrigues Lobo movido pela “vontade de conhecer” o jornal, numa época da sua vida em que encarava o jornalismo como “opção de futuro”.
Quase 30 anos volvidos e depois de o “pragmatismo” o ter encaminhado para a área da gestão, voltou a reencontrar-se com o jornalismo. É hoje director do Portugal Post, o único jornal em língua portuguesa na Alemanha, ao mesmo tempo que dirige uma empresa que trabalha nos sectores do vinho e do turismo e a Berlinda, uma associação que se dedica à promoção da cultura e da língua portuguesas.
“Qual a área que mais me preenche? Depende. Tem fases. Escolher é como pedir a um pai que diga qual o filho favorito”, brinca Tiago Pais, há vários anos radicado em Berlim, onde fez o mestrado em Gestão Pública na Universidade de Potsdam.
O plano inicial era o de ficar apenas o tempo suficiente para concluir a formação e partir depois para África, onde já tinha estado integrado num projecto de voluntariado desenvolvido em Moçambique por uma organização não governamental e onde tencionava voltar para prestar consultoria na área da administração pública.
Licenciado em Gestão na Universidade Nova de Lisboa, Tiago Pais trabalhou, durante quatro anos, como consultor na Deloitte na área da gestão pública, tendo como clientes a Câmara de Lisboa e os Ministérios da Justiça e das Finanças, entre outras entidades do sector público.
“Queria ter alguma experiência profissional antes de avançar para o mestrado”, explica. Berlim e o mestrado revelaram-se experiências “entusiasmantes”, pelo que não foi difícil decidir quando surgiu o convite para fazer o doutoramento.
“Berlim tem muito para oferecer a um jovem com 20 e poucos anos. É uma cidade vibrante, genuinamente livre, em que cada um se exprime à sua maneira, sem juízos de valor. Por outro lado, incentiva muito a criatividade, porque há sempre muita coisa a acontecer”, salienta Tiago Pais, que, nessa fase, trabalhou como bancário na Caixa Geral de Depósitos na capital alemã, para “financiar” o doutoramento, que acabou por ficar pelo caminho.
A experiência como bancário fê-lo perceber que não queria fazer carreira no sector nem “fazer vida de escritório”. Arriscou na abertura de um bar de vinhos. Durante o dia, trabalhava no banco, para “minimizar o risco financeiro”, e à noite dedicava-se ao negócio, que ainda se mantém.
No final de 2017, surgiu o desafio para comprar o jornal Portugal Post. “Conhecia o jornal e as pessoas que escreviam e colaboravam com a publicação. Fiz também uma análise aos dados financeiros, que eram interessantes, e avancei para o projecto”, recorda.
O Portugal Post, explica, é uma publicação mensal para a comunidade portuguesa e para “todas as pessoas que se interessam por Portugal e pela nossa língua”, focado em “informar sobre o que se passa” no País e na Alemanha.
Em paralelo, o gestor dirige a Berlinda, uma associação sediada em Berlim que se dedica à promoção da cultura e da língua portuguesas, “não só na comunidade emigrante, mas também na lusofonia”.
“Foi uma iniciativa da Inês Thomas Almeida, que tem laços com Leiria. Começou com o Festival Berlinda, realizado em 2012, muito orientado às artes, com cinema e música, entre outras vertentes artísticas”, conta o dirigente, reconhecendo que o projecto “sofreu muito” com a pandemia e com a dificuldade de manter uma equipa pro-bono activa, com pessoas que estão envolvidas noutras actividades.
Neste momento, a Berlinda mantém o seu evento anual, que acontece na época natalícia, com programação cultural, que este ano contará com uma performace em torno da ode marítima de Álvaro de Campos, a ser feita por actor português. Em stand by está o grupo de voluntariado da associação que acompanhava crianças angolanas internadas em hospitais da região de Berlim.
A par destes projectos, Tiago Pais dedica-se à 7Mares, empresa que trabalha no negócio dos vinhos. Importa de Portugal e faz a distribuição junto de restaurantes, sobretudo na capital alemã, e mantém o bar, que funciona agora à base de eventos.
“O mais importante no negócio dos vinhos é ter histórias para contar, proporcionar experiências”, defende o empresário, que recentemente começou a promover passeios turísticos em Berlim em torno da comida e do vinho, uma área que “disparou” na cidade no pós-pandemia, sobretudo, à conta do mercado norte-americano e anglo-saxónico. Há hoje muitas pessoas que querem viajar em torno de experiências, mais do que fazer chek list de sítios a visitar”, diz Tiago Pais.