Está a chegar ao fim “o hiato mais prolongado” na relação de Gil Jerónimo com a música desde que formou as primeiras bandas, ou seja, há uma nova etapa a iniciar-se no percurso do músico de Lost Lake, Jerónimo, Les Crazy Coconuts e Monomonkey, que não actua ao vivo “desde 2022”. O interregno termina já na próxima semana, com concertos em Coimbra e Bragança inseridos no ciclo de programação Café Duplo, da responsabilidade da Blue House, plataforma sediada em Coimbra que agrega as valências de estúdio de gravação, agência de booking e produtora cultural.
Ambos os concertos – terça-feira, 17 de Dezembro, no Café-Concerto do Convento de São Francisco, em Coimbra, e quarta-feira, 18, na sala estúdio do Teatro Municipal de Bragança – têm como contexto a colaboração em residência artística com a compositora, violoncelista e cantora Joana Guerra, por convite da Blue House, que propõe 48 horas de trabalho para preparar um espectáculo de 60 minutos em que os dois artistas apresentam os respectivos reportórios e também, pelo menos, um original criado em conjunto. Pelo Café Duplo passaram, por exemplo, Surma (Leiria) e Bia Maria (Ourém).
Um reencontro de estranhos
Gil Jerónimo e Joana Guerra, que também vão gravar (música e vídeo) com a Bluehouse, nunca trabalharam juntos, mas têm uma noite em comum. Em Março de 2019 partilharam o palco (em momentos diferentes) como convidados especiais de Surma no pequeno auditório do CCB, em Lisboa, na véspera da final do Festival da Canção em que Surma conquistou o quinto lugar e viu Conan Osíris ganhar o concurso com o tema “Telemóveis”.
Agora, na bagagem para a primeira residência artística em que participa, Gil Jerónimo leva teclado, guitarra, samples e, talvez o mais importante, abertura de espírito. Trabalhar com outros músicos “é quase como ter uma relação” em que importa “saber fazer cedências” para salvaguardar “o que agrada aos dois”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. O guião inclui canções de Les Crazy Coconuts e Jerónimo, que serão “desconstruídas”, além de outra, “Perdi Amor”, escrita a solo com letra de Jorge Vaz Dias.
“Estou ansioso por que aconteça”, comenta o músico de Leiria, actualmente com 39 anos. Mais perfeccionista e atento ao detalhe do que acostumado a fechar ideias em contrarrelógio, antecipa uma experiência “desafiante” e “fora da caixa”, que lhe vai permitir conhecer os próprios “limites”, durante as 48 horas da residência artística.
Do outro lado, um currículo preenchido nos caminhos da improvisação e da música experimental e exploratória, em ambientes noise, folk, rock e jazz. Joana Guerra já colaborou, entre outros, com Joëlle Léandre, Lula Pena, Yaw Tembe e Pop Dell’Arte e soma quatro álbuns editados em nome próprio, além de incursões como compositora ou performer no cinema, no teatro e na dança.
EP com Lost Lake
Com Adriana Jaulino e Tiago Domingues, os Les Crazy Coconuts de Gil Jerónimo lançaram em 2015 o álbum homónimo embalado por ritmos de sapateado e melodias pop, a que se seguiu, com os irmãos Luís Jerónimo e Nuno “Rancho”, o projecto Jerónimo, e, com Adriana Lisboa, a dupla Lost Lake, que espera disponibilizar o EP de estreia, inteiramente instrumental, ainda em 2024 ou no início do próximo ano. Não será, provavelmente, a única novidade em 2025, agora que o Café Duplo está servido e a música substitui um silêncio de dois anos.