Portugal já conta com uma associação de produtores e transformadores de insectos. Chama- -se Portugal Insect, foi constituída este mês, e integra uma empresa de Leiria que está apostada em produzir e transformar grilos em farinha para pão, bolachas, barras proteicas ou patés.
E, ao longo deste processo, perspectiva-se que os reclusos do Estabelecimento Prisional de Leiria possam vir a dar o seu contributo.
A Portugal Insect nasceu pela mão de três empresas nacionais: a Nutrix, de Leiria, a Portugal Bugs, de Matosinhos, e a EntoGreen, de Santarém.
José Gonçalves, fundador da Nutrix, que já se dedicava à produção de framboesas biológicas, explicou ao JORNAL DE LEIRIA que o seu interesse pela introdução de insectos na alimentação humana despertou depois de conhecer a posição da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, que alerta para a necessidade se de se encontrarem alternativas sustentáveis para produzir proteína animal, tendo em conta os fortes impactos das fontes actualmente utilizadas, sobretudo as carnes de vaca, de porco e de frango.
O empreendedor explica que enquanto a EntoGreen pretende produzir alimentação para animais, com recurso a larvas da “mosca soldado negra” (hermetia illucens), a Portugal Bugs está a trabalhar no desenvolvimento de alimentação humana com recurso a larvas de “bicho da farinha” (tenébrio).
Já a Nutrix está a estudar a inintrodução do grilo doméstico (acheta domesticus) na alimentação humana, através da produção de farinha, a usar em pão, bolachas, barras proteicas ou patés, expõe José Gonçalves. O fundador da Nutrix refere que a possível repugnância do público português não é uma contrariedade que o preocupa, pois entende que “é uma questão de tempo até ser ultrapassada”.
Refere que a aceitação tende a aumentar junto dos consumidores, quando estes têm a informação adicional do valor proteico, dos benefícios para a saúde e para a preservação do meio ambiente. E, apresentado num concurso de ideias promovido pela Universidade de Coimbra, este projecto colheu desde logo bastante interesse, acrescenta José Gonçalves.
Quanto às restrições vigentes da legislação europeia, em relação à introdução de insectos na alimentação humana, também deverão ser retiradas durante o próximo ano, confia o empreendedor.
José Gonçalves adianta que, em Leiria, a sua empresa irá funcionar em duas vertentes: a produção e a transformação de insectos. Para apoiar na fase de produção, o empreendedor está a dialogar com o Estabelecimento Prisional de Leiria, para que ali possam ser cedidas instalações e recursos humanos, designadamente os reclusos que estejam interessados em aprender mais sobre esta nova actividade.
[LER_MAIS] Uma vez que se trata de um projecto-piloto de produção, o investimento nesta vertente não irá além dos 50 a 70 mil euros, prevê o empreendedor.
Já a posterior criação da unidade de transformação em produtos alimentares exigirá um investimento de maior relevância, estima José Gonçalves.
Quanto ao futuro circuito de vendas, estes são produtos também vocacionados para exportação, em particular para o mercado europeu, adianta o fundador da Nutrix.