Quase 45 anos depois da constituição da sua primeira empresa, o que é hoje o designado Grupo NOV? A sua génese são as actividades individuais de António Vieira Rodrigues, na área da construção e terraplanagem, que levariam em 1974 à constituição da Construtora do Lena, a partir da qual nasceria o grupo.
Nas décadas seguintes, a empresa foi diversificando actividades e áreas de negócio, estratégia que prosseguiu nos anos 90, com apostas em áreas como imobiliário, gás natural, ambiente, comunicação, serviços, automóvel e turismo.
Do portfolio de trabalhos desenvolvidas pelo grupo contam-se, entre outras, o Pavilhão de Portugal na Expo, os estádios de Leiria e do Algarve (para o Euro 2004), a Ponte do Carregado, a CRIL (Lisboa) e obras no âmbito do Programa Polis. Esteve também envolvido em Agrupamentos Complementares de Empresas “de grande potencial”, concorrentes à construção de troços do percurso do TGV e do novo aeroporto, bem como nas Auto-Estradas do Centro.
Mas a área das construções tem hoje muito menos peso, enquanto o negócio dos automóveis assumiu protagonismo. Ainda não há dez anos, “70% da actividade do grupo estava ligada às construções, agora o negócio mais importante em Portugal são os automóveis, com 60 milhões de facturação”, praticamente o dobro do registado por aquela que foi em tempos a área com mais peso.
Na década de 1990 o grupo registou um “acentuado crescimento e diversificação” de actividades, sobretudo para áreas complementares à construção, e deu os primeiros passos na internarcionalização. A partir de 2008 tudou mudou. A crise obrigou a iniciar um “profundo processo” de reestruturação financeira e em 2010 implementou-se igualmente um novo modelo de governação corporativa.
Foi ainda definida uma nova visão estratégica, que pretendeu focalizar o grupo nas áreas da engenharia/construção e ambiente/energia, pilares considerados essenciais para o crescimento no futuro e para a sustentabilidade da internacionalização, que crescia mas também contribuía para o aumento da dívida.
Em 2011, as construções ainda eram o negócio com mais peso. A Lena assumia-se como “um dos principais players nacionais no mercado das obras públicas, do ambiente e energia”. Neste ano, só a Lena Engenharia e Construções facturou 429 milhões de euros, ou seja, 84,4% do total do grupo.
Quando a comissão executiva a que Joaquim Paulo Conceição preside iniciou funções, em 2010, a dívida do grupo rondava os mil milhões de euros, reconhece o gestor. Agora está abaixo dos 600 milhões. “Em 2010, perdíamos com os jornais que tínhamos 20 milhões de euros por ano”, exemplifica.
O diário i era o que “mais pesava” nesse prejuízo. Foi precisamente pela área da comunicação social que o grupo iniciou a reestruturação, alienando praticamente todos os jornais, ficando apenas com dois.
Algumas áreas cresceram muito, mas “excessivamente endividadas”. Foi o caso dos hotéis. Por isso, no ano passado a Lena Hotéis e Turismo recorreu a um Plano Especial de Revitalização cuja aprovação pelos credores lhe permitir diminuir a dívida “para menos de metade”.
Actualmente com menos de 100 empresas, o grupo mantém praticamente as mesmas áreas de negócio que tinha antes do início da implementação do novo modelo de governação, que levou à alienação de cerca de 200 sociedades. Depois dos automóveis, a segunda área mais importante é a indústria, cuja facturação deverá rondar os 40 milhões de euros.
Os negócios ligados ao ambiente – produção de energia e aterros sanitários – também têm ganhado importância. “É mais uma das operações sólidas, que tem ajudado a sustentar toda área das construções”, negócio cuja queda influencia os resultados de todo o grupo.
No ano passado o volume de negócios agregado foi de 179,7 milhões de euros, uma descida de 45,6% face aos 330,4 milhões de 2016. Para este ano os valores de facturação deverão ser semelhantes.
Apontada muitas vezes como “a construtora do regime socrático”, colagem que prontamente desmentiu num comunicado emitido depois de as notícias relativas à Operação Marquês, e às buscas efectuadas na sede do grupo, terem trazido o seu nome para a praça pública, a Lena tem sofrido o impacto desta situação (ver entrevista aqui).
Em 2015 ficou a saber-se que tinha sido constituído arguido um dos administradores do grupo, Joaquim Barroca Rodrigues, a quem chegou a ser decretada prisão domiciliária.
Em Março deste ano o grupo anunciou a mudança de nome para NOV, uma transformação “necessária, uma renovação aprofundada da organização, que surge do nosso passado recente e de algumas condicionantes que fomos forçados a enfrentar, mesmo sem nada termos contribuído para isso”, explicava na altura em comunicado.